O vídeo no Youtube emociona. Reminiscência de uma época na qual acreditamos ter dado um grande passo adiante. Conquistáramos o poder. O povo no poder! A URSS era um estímulo para prosseguir e acreditar na luta.
Um passo atrás.
A burocracia derrubou aquele totem. Rendeu-se ao canto do capital. Junto com aquele muro caiu por terra a “convicção” de muitos falsos comunistas e socialistas. Cansados de lutar contra a desinformação reproduzida pela indústria cultural, cansados de estar “fora de moda”, deitaram suas bandeiras, vestiram suas tanguinhas, suas gravatas, alguns trocaram O Capital pelo evangelho e sorriram aliviados. “Aquele bando de vagabundos que vá estudar e se esforçar para ingressar no mercado. Eu vou cuidar é de faturar.”
Uns foram tentar o mercado. Outros, com nova fachada light, ombrearam-se àqueles que antes combatiam e foram contar mentiras e faturar votos e grana, convencendo a muitos que a história tinha chegado ao fim. “Quem lutar terá sua chance de vencer na vida”.
Faz anos que tudo aconteceu. É bem verdade que, sob a cortina imposta pela mídia, alguns ainda acreditam nas aleivosias do mercado. Outros tantos perceberam ter caído em um conto fantasioso. Milhares, sem deixar-se enganar, mantiveram-se firmes rumo à conquista do mundo igualitário que aprenderam ser possível. Estes conservam a coerência de suas convicções e a sua biografia límpida.
Dois passos à frente.
Aos poucos a caverna foi-se iluminando, bem devagar. Alguns saíam lentamente a entender o que acontecia lá fora. Algo acontecia diferente do que mostravam as imagens projetadas. Estranhavam o que os arautos insistiam em apregoar, pois alguns desses serviçais já encontravam dificuldade nas cores das tintas. Os que saíram perceberam outras cores, outras imagens, outras palavras. Povos se levantaram e viram a luz tão diferente e, com determinação, apropriaram-se daquilo que, agora percebiam, era deles desde sempre.
Hoje, outro muro, levantado pelo tão poderoso deus mercado, caiu. Levou templos e arrastou milhões de devotos. Aquele muro de visibilidade extraordinária, que foi derrubado como um símbolo e uma lição, volta hoje ao imaginário como uma interrogação. Onde estava este muro que não era mostrado e que agora se transforma em tantos escombros? E por que se procura nos jornais e não se acha explicação? Apenas se vêem umas notinhas, aqui e ali, um tanto confusas. Procura-se os arautos e eles estão esquisitos, falam frases desconectas, como se estivessem em um mundo desconhecido.
No meio da praça, um velhinho, de barbas brancas, fala para poucas pessoas que se aproximam. Ele carrega um livro antigo, capa vermelha, e aparenta ter saído dos escombros. Diz com paciência, olhando para cada um que se aproxima: “Só vocês poderão reconstruir esses escombros. Unidos, como escrevi há cento e sessenta anos atrás”. Na praça, a multidão já forma centenas de milhões de pessoas.
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