A repercussão do livro A Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr, proporcional à importância das denuncias que ele revela, trouxe à tona o debate mais temido pelos meios de comunicação alinhados com o poder dominante: a urgente necessidade de marcos regulatórios para a comunicação. Destaco aqui dois recentes artigos e, logo abaixo, comentários de Bob Fernandes, editor do Terra magazine, no Jornal Gazeta. O livro de venício de Lima aqui em resenha trás argumentações didáticas sobre as razões que tornam urgente uma regulamentação; mais abaixo, artigo de Ricardo Kotscho, sobre liberdade de imprensa.
Não deixe de ler.
Uma relação perigosa / Um modelo em transição Programa nº 1698Uma relação perigosa
O ruidoso silêncio dos jornais de circulação nacional em torno do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., diz muito sobre o que tem sido, nos últimos anos, o viés político da imprensa brasileira. Mas deixa ainda mais obscuros os escaninhos da relação entre o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-senador José Serra com a cúpula das empresas de comunicação dos principais centros do país.
Repórteres que acompanham a carreira desse político paulista se habituaram há muito tempo a aceitar como normal sua ascendência sobre as cabeças coroadas da imprensa tradicional.
Nunca ocorreu a ninguém – ou se ocorreu, nunca antes qualquer profissional havia enfrentado essa tarefa – vasculhar os segredos dessa estranha relação.
O livro de Ribeiro Jr., pelo menos nos trechos já divulgados em entrevistas que circulam pela internet e reproduzidos por blogs, levanta hipóteses que podem conduzir a conclusões perigosas demais para serem tratadas com leviandade.
Talvez seja essa exatamente a razão pela qual os grandes jornais ainda não se dispuseram a entrar no assunto com a dedicação que ele merece.
Se é verdade metade do que já se disse sobre a investigação de Ribeiro Jr., deve haver motivos para preocupações em muitas casas de boa reputação.
Mais alguns dias e os primeiros compradores terão completado a leitura das 334 páginas do livro, e então o silêncio da chamada grande imprensa será de pouca valia.
Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente.
Não é mistério para as pessoas afeitas ao mister do jornalismo que muitas das resenhas publicadas pela nossa imprensa são produzidas por osmose, sem que os redatores de cadernos de cultura tenham que se dar o trabalho de ler inteiramente a obra analisada.
O método é descrito deliciosa e ironicamente pelo escritor Ronaldo Antonelli, ex-redator do jornalismo cultural, em seu romance O crepúsculo das letras.
Foi assim, claramente, que alguns livros sobre políticos ganharam destaque recentemente.
Principalmente aqueles escritos por seus desafetos, como foram os casos dequeles que têm como personagem o ex-presidente Lula da Silva.
Se o caso é de esperar que algum bom resenhista termine sua leitura, louvado seja o silêncio da imprensa em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr.
(continua no final da postagem)
Em busca do equilíbrio
Por Rodrigo Braz, no Observatório da Imprensa, edição 671
Resenha de Regulação das comunicações: história, poder e direitos, de Venício Arthur de Lima, Editora Paulus, São Paulo, 2011; reproduzido da Revista Brasileira de Políticas de Comunicação nº 1, do Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom) da Universidade de Brasília; título e intertítulos do OI
Não deixe de ler.
Uma relação perigosa / Um modelo em transição Programa nº 1698Uma relação perigosa
O ruidoso silêncio dos jornais de circulação nacional em torno do livro A privataria tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr., diz muito sobre o que tem sido, nos últimos anos, o viés político da imprensa brasileira. Mas deixa ainda mais obscuros os escaninhos da relação entre o ex-governador, ex-ministro, ex-prefeito e ex-senador José Serra com a cúpula das empresas de comunicação dos principais centros do país.
Repórteres que acompanham a carreira desse político paulista se habituaram há muito tempo a aceitar como normal sua ascendência sobre as cabeças coroadas da imprensa tradicional.
Nunca ocorreu a ninguém – ou se ocorreu, nunca antes qualquer profissional havia enfrentado essa tarefa – vasculhar os segredos dessa estranha relação.
O livro de Ribeiro Jr., pelo menos nos trechos já divulgados em entrevistas que circulam pela internet e reproduzidos por blogs, levanta hipóteses que podem conduzir a conclusões perigosas demais para serem tratadas com leviandade.
Talvez seja essa exatamente a razão pela qual os grandes jornais ainda não se dispuseram a entrar no assunto com a dedicação que ele merece.
Se é verdade metade do que já se disse sobre a investigação de Ribeiro Jr., deve haver motivos para preocupações em muitas casas de boa reputação.
Mais alguns dias e os primeiros compradores terão completado a leitura das 334 páginas do livro, e então o silêncio da chamada grande imprensa será de pouca valia.
Argumentando-se que é apenas a cautela do jornalismo responsável o motivo de tamanha retração – pois seria leviano conceder o aval da imprensa ao livro e seu autor sem uma leitura cuidadosa da obra – ainda assim não se pode escapar de uma comparação com outros livros sobre políticos publicados recentemente.
Não é mistério para as pessoas afeitas ao mister do jornalismo que muitas das resenhas publicadas pela nossa imprensa são produzidas por osmose, sem que os redatores de cadernos de cultura tenham que se dar o trabalho de ler inteiramente a obra analisada.
O método é descrito deliciosa e ironicamente pelo escritor Ronaldo Antonelli, ex-redator do jornalismo cultural, em seu romance O crepúsculo das letras.
Foi assim, claramente, que alguns livros sobre políticos ganharam destaque recentemente.
Principalmente aqueles escritos por seus desafetos, como foram os casos dequeles que têm como personagem o ex-presidente Lula da Silva.
Se o caso é de esperar que algum bom resenhista termine sua leitura, louvado seja o silêncio da imprensa em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr.
(continua no final da postagem)
Em busca do equilíbrio
Por Rodrigo Braz, no Observatório da Imprensa, edição 671
Resenha de Regulação das comunicações: história, poder e direitos, de Venício Arthur de Lima, Editora Paulus, São Paulo, 2011; reproduzido da Revista Brasileira de Políticas de Comunicação nº 1, do Laboratório de Políticas de Comunicação (LaPCom) da Universidade de Brasília; título e intertítulos do OI
“Regulação” é um conceito imprescindível para a vida humana, pois, ainda que seja um substantivo abstrato, tem uma dimensão prática que está impregnada na vida cotidiana do ser humano, tanto em sua dimensão biológica como na social. A água, por exemplo, é uma composição química essencial a sobrevivência do homem, porque, entre outras coisas, permite a regulação da temperatura corporal. Assim, quando o nosso corpo está superaquecido, as glândulas sudoríparas eliminam suor para que, ao evaporar, ele retire calor do corpo, fazendo-o voltar ou se reaproximar da temperatura ideal. Quando alguém está com problemas intestinais, o médico sempre recomenda ingerir alimentos e/ou medicamento que regulam as atividades do intestino, fazendo com que ele volte a funcionar harmoniosamente. Portanto, regular alguma coisa significa colocar em equilíbrio ou em ordem determinados fatores ou aspectos que estão envolvidos no funcionamento dessa coisa. O termo “regulação” no latim está associado à palavra regularis, que significa barra, régua ou vara reta, objetos que permitem fazer a medição das coisas, permitindo que tenhamos somente aquilo ou a quantidade que necessitamos. Não por acaso, regulação está também associada ao verbo regere, que corresponde a colocar em ordem ou em controle. Nesse caso, o controle não pode ser excessivo ao ponto de levar ao desequilíbrio ou a desarmonia do sistema.
No âmbito da vida em sociedade, igualmente, a regulação é um fator indispensável, pois garante o equilíbrio entre os poderes e as forças políticas. Nas democracias capitalistas ocidentais, o Estado assume, idealmente, a função de mediar e equilibrar as relações de poder dentro de preceitos democráticos. Todo e qualquer direito, seja ele civil, político ou social, só é possível por meio da regulação, pautada em normas e leis. Os direitos sociais, por exemplo, vão ser implementados na primeira metade do século XX para se contrapor as enormes desigualdades sociais geradas pelos princípios liberais.