sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Encomenda de índices e resultados. Um negócio rentável.

O Ibope vem se tornando, nos últimos anos, um instituto reconhecido por fazer pesquisa por encomenda. O problema, nesse caso, é quando os resultados são encomendados


Caetano De’Carli*, em 15/10/2009




O Ibope vem se tornando, nos últimos anos, um instituto reconhecido por fazer pesquisa por encomenda. Até aí, não há em tese um problema muito grave, já que toda pesquisa é encomendada por alguém - seja partidos políticos, canais de televisão, governo etc. O problema, nesse caso, é quando os resultados são encomendados.





Numa pesquisa encomendada pela CNA, o Ibope comete um erro metodológico grotesco a ponto de desconfiarmos da sua capacidade técnica ou da sua intenção política. O método de amostragem ouviu mil entrevistados em 9 assentamentos no Brasil e gerou resultados estatísticos que vão de encontro a uma pesquisa de pelo menos 5 anos do IBGE. Qual é a questão metodológica envolvida na amostragem? De fato, os mil entrevistados não são representativos no contexto geral da Reforma Agrária, já que há assentamentos que, sozinhos, possuem mais gente do que isso.




Mas o erro mais grave, nesse caso, se refere aos 9 assentamentos. Qualquer indivíduo que já visitou um assentamento de Reforma Agrária sabe que há uma tendência, entre as famílias assentadas em um mesmo assentamento, a ter realidades similares. Nesse caso, metodologicamente, não só a quantidade e a variedade de entrevistados devem ser representativas, mas também a variedade e quantidade dos assentamentos de Reforma Agrária. Fazer uma pesquisa nacional somente em 9 assentamentos é uma metodologia tão tosca quanto se fosse somente 9 o número de entrevistados.





Além do mais, a categoria “assentamento” inclui não só os assentamentos do MST e outros movimentos sociais que estão inseridos na luta do povo brasileiro por uma Reforma Agrária justa, mas também os projetos de colonização implementados no período militar. Se fosse intenção do Ibope realizar uma pesquisa para avaliar a produtividade dos assentamentos de Reforma Agrária, deveriam ser tomados todos esses cuidados que os técnicos do Instituto bem conhecem.




A pergunta que fica é: por que isso não foi feito? Será que isso se relaciona com quem pagou a pesquisa? Será que se relaciona com uma série de ataques que a mídia, tão complacente com os crimes do agronegócio (atualmente o Jornal Nacional usa a palavra “suposto” para falar do Massacre de Eldorado dos Carajás), realiza sobre o MST? O Ibope, definitivamente, deu outro significado para o termo “pesquisa realizada sob encomenda”.





* Historiador, doutorando pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e militante do MST

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