Wilson Simonal, um dos cantores mais importantes da década de 1960 , teve sua vida - ascensão e queda - biografada no documentário "Simonal - Ninguém Sabe o Duro Que Dei", que tem a intenção explícita de reabilitá-lo perante a história.
Conhecido pelo seu swing, Simonal chegou a ter um mascotinho, o Mug, que fez sucesso entre as garotas, na época da jovem guarda.
Mas, em seguida, sucede a ditadura e Simonal se envolveu com ela, o que veio à tona em 1971, em um episódio, que envolveu um funcionário seu, espancado a seu pedido por “amigos” do Dops.
Todos os jornais da época noticiaram sobre o assunto, estamparam fotos e tudo mais. O funcionário, que era seu contador, o denunciara à justiça, que diante das irrefutáveis provas, o condenou por cárcere privado e agressão física. A arrogância do artista o levou a argumentar, no processo judicial, que era informante da polícia, como a querer angariar simpatia, em plenos anos de chumbo.
O filme, além de usar o tempo do verbo errado (teria), ao referir-se ao feito de Simonal, tenta despertar no espectador a compaixão pela derrocada de sua carreira.
Acho válido que se tente recuperar o valor do talento dele como artista, embora pessoalmente não consiga separar o homem da sua arte. Não com a desfaçatez de colocar em dúvida fatos comprovados, como faz o filme e a mídia surfando nessa onda.
O ombudsman da Folha de São Paulo na época, Mário Magalhães, registrou a sua estranheza. Afinal, o jornal dele dera há anos a notícia que agora tentam imputar à perseguição de uma esquerda rancorosa.
Simonal não foi vítima da intolerância nem da esquerda, nem muito menos de preconceito racial, como querem alguns. Ele foi vítima de sua formação moral deficiente, de seu débil caráter. Foi vítima da própria arrogância. O contador, sim, foi vítima de truculência e injustiça. Jamais foi confirmada a suspeita de Simonal, jamais se provou nada contra o contador. E ele foi humilhado e torturado.
Muitos blogs e colunas têm se deixado envolver por inconsistentes e cômodas suposições, ajudados por uma patética afirmação da Secretaria de Direitos Humanos, de que jamais foi provado que Simonal pertencia realmente aos quadros de informantes do Dops e das Forças Armadas. Uma homenagem? Patético. Talvez não tenham achado nenhum cadáver para testemunhar. Até porque, na época, nem o direito á integridade de seu cadáver, os mortos conseguiam manter. Mas que dá importância a provas de que ele fosse ou não dos quadros, se foi Simonal mesmo quem afirmou em juízo ser informante? Alguém de boa fé, pode ter dúvidas?
Deixo aqui trechos do texto do ombudsman:
"A história omitida
(...) A Folha publica hoje reportagem sobre documentário biográfico de Simonal.
O jornal embarca na versão de que o cantor foi "acusado" de ser informante da ditadura militar.
A história inteira (pelo menos a conhecida): à Justiça ele afirmou que não era informante "apenas" do Dops da Guanabara, mas também de órgão do Exército encarregado de combater os inimigos do regime.
Mais: Simonal levou ao tribunal testemunhas. Policial do Dops e oficial do Exército confirmaram a condição de informante da polícia política e das Forças Armadas.
Não faço idéia se essas informações constam do filme.
Mas é estranho que estejam ausentes da reportagem do jornal.
O motivo é simples: elas constam do noticiário da Folha no dia seguinte à morte de Simonal.
Os documentos legais, nos quais o artista se diz informante e apresenta testemunhas, seguem à disposição. Eles foram revelados pela Folha. ...”
Resumindo: 1) levou como testemunha sua um detetive do Departamento de Ordem Política e Social do Estado da Guanabara. Este assegurou que o cantor era informante do Dops. 2) Outra testemunha de defesa, um oficial do 1° Exército, afirmou que o réu colaborava com a unidade. 3) O juiz sentenciou: Simonal era colaborador das Forças Armadas e informante do Dops’. 4) Em 1976, acórdão do Tribunal de Justiça do RJ reafirmou a condição de ‘colaborador do Dops’.
Melhor acatar a sugestão de Jânio de Freitas: “Coloquem a palavra ‘dedo’, antes de duro”.
Ponto final.
Leila Jinkings
Um comentário:
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Entrada franca
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