Em carta, ex-presidente italiano admitiu perseguição política a Cesare Battisti
Por William Maia , na Última Instância, revista jurídica do UOL
O ex-presidente italiano Francesco Cossiga admitiu em carta endereçada ao ex-militante comunista Cesare Battisti ter existido perseguição política do governo italiano, de setores da imprensa, de sindicatos, além do próprio Partido Comunista e da Democracia Cristã italiana, contra organizações radicais de esquerda e de direita.
Confira no fim da página a integra do documento, conseguido com exclusividade por Última Instância.
De acordo com a carta, data de fevereiro do ano passado, o hoje senador Cossiga, afirmou ter existido um acordo para, em um instrumento de “luta psicológica”, “fazer passar os subversivos de esquerda e os subversivos de direita como simples terroristas, ou absolutamente como criminosos comuns”.
Cossiga começa o texto lembrando que nas décadas de 70 e 80, quando foi primeiro-ministro e ministro do Interior, foi um “duro opositor da subversão de esquerda e de direita” e que por ter usado “meios fortes” para reprimi-la, passou a ter seu nome redigido com ‘k’ e com letras ‘s’ em estilo rúnico, que remetiam ao nazismo.
O ex-presidente ressaltou ainda que os delitos cometidos pelos militantes não podem ser considerados transgressões comuns. “Os crimes que a subversão de esquerda e a subversão de direita cumpriram, são certamente crimes, mas não certamente ‘crimes comuns’, porém ‘crimes políticos’”.
Ao final, Cossiga autoriza Cesare Battisti a utilizar a carta como desejar, inclusive com valor jurídico.
O caso
O escritor, que integrou na década de 1970 a organização radical de esquerda PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), e foi condenado pela Justiça da Itália pela suposta participação em quatro homicídios.
Battisti nega a autoria dos crimes e alega ser vítima de perseguição política. Seus advogados no Brasil, argumentam que o italiano não teve direito à ampla defesa no julgamento que levou à condenação.
Em 1993, a Justiça italiana reabriu o caso dos assassinatos, que ocorreram entre 1977 e 1979, e acusou o ex-militante baseado no depoimento de um ex-integrante da PAC, que foi beneficado com a delação premiada.
Carta original em italiano / Tradução da carta em português
http://ultimainstancia.uol.com.br/noticia/61156.shtml
Leia ainda: http://noticias.uol.com.br/politica/2009/01/16/ult5773u394.jhtm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u490573.shtml
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