quinta-feira, 29 de julho de 2010

No rumo da derrota, o direitista José Serra prega o medo

Bateu o desepero na campanha da oposição e o candidato da direita, o tucano José Serra, assumiu de vez sua face conservadora e retrógrada. A senha para a enxurrada de ameaças e mentiras foi a entrevista em que o vice Índio da Costa (DEM-RJ) acusou o PT de ligação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e com o narcotráfico, mentira prontamente avalizada por Serra e pelo alto tucanato.

Os tucanos, que não tem sequer a coragem de deixar claro para os brasileiros o neoliberalismo e privatismo do programa que pretendem aplicar na remota hipótese de voltarem à Presidência da República, estão sem discurso. E a saída que encontraram é a difusão de acusações mentirosas para fomentar o medo e abocanhar, esperam, alguns votos a mais em outubro.

Não vai dar certo, até porque medo, mesmo, quem inspira é a direita neoliberal e seu candidato destemperado. Temor da volta ao Palácio do Planalto do mesmo programa nefasto que infelicitou o país nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, que foram de retrocesso, prostração nacional, em que aquele governo agiu como um autêntico vice-reinado colonial, subordinando o Brasil aos ditames dos governos dos EUA e da União Européia, com graves consequências para a economia, que estagnou, e para o povo, que empobreceu.

Não custa lembrar alguns episódios. Em maio de 2000, o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, do qual José Serra era ministro, assinou em Washington um acordo cedendo aos Estados Unidos, por um aluguel irrisório, a base de Alcântara. Pelo acordo, abria mão da soberania nacional sobre o território da base, que passava ao controle estadunidense, e comprometia-se inclusive a só usar o dinheiro do aluguel em atividades autorizadas pelos americanos.

Foi a resistência das forças de esquerda que estavam em oposição ao governo neoliberal, como o PCdoB, o PT, o PDT entre outros partidos, aliados a militares nacionalistas e ao movimento social (UNE, MST, etc.), que impediu a consumação daquela infâmia, e o acordo acabou não sendo aprovado pelo Congresso Nacional, apesar de toda a pressão exercida pelo então presidente da República, FHC, sobre os parlamentares.

Outro episódio que ilustra a política antidemocrática e antipopular do governo neoliberal do qual José Serra fazia parte foi a severa repressão contra a greve dos petroleiros, em maio de 1995, só igualada à política antigrevista da ditadura militar. Foi tratada à base da demissão de grevistas e do estrangulamento econômico através da aplicação de inúmeras multas do sindicato dos petroleiros.

O governo do qual José Serra fazia parte repetia, no Brasil, a mesma tática usada na Inglaterra por Margareth Thatcher e nos EUA por Ronald Reagan para derrotar os trabalhadores e impor seus programas privatizantes - destruir os sindicatos, como Thatcher fez com os mineiros de carvão e Reagan com os controladores de vôo.

Um terceiro episódio é recente, mas demonstra a mesma sanha antidemocrática. No início de julho, o jornalista Heródoto Barbeiro foi demitido do programa Roda Viva, na TV Cultura. Existem fortes suspeitas de que sua cabeça foi decepada a pedido do campeão do medo. Afinal, ao entrevistar José Serra naquele programa, dois dias antes, Heródoto colocou o ex-governador paulista contra a parede ao inquiri-lo sobre as extorsivas taxas do pedágio nas rodovias de São Paulo - que aliás já valeram a Serra o apelido de "Zé do Pedágio".

São fatos, estes sim, de dar medo. E que, na improvável hipótese da vitória de Serra em outubro, passarão a comandar a ação do governo contra os movimentos sociais, os trabalhadores e a soberania nacional. É o que a atual safra de injúrias indica. Serra mostrou o desejo de criminalizar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; de abandonar o Mercosul e reativar a Alca que foi congelada justamente como resultado de uma opção soberana do governo Lula; de investir contra a integração da América do Sul atacando a Venezuela, a Bolívia e o Paraguai; e por aí vai.

É um rumo que os brasileiros já experimentaram e não querem mais. A eleição de 2002 foi o pleito da esperança que venceu o medo; a de 2010 será a da confiança que derrotará o medo. Confiança na continuidade e no avanço. A agenda brasileira mudou desde 2003, com Lula na presidência. O crescimento voltou, mesmo com a grave crise econômica mundial; a renda do trabalhador cresceu, o mercado interno se fortaleceu e a produção alcança níveis inéditos nas últimas décadas. O Brasil expulsou o FMI, reassumiu sua soberania e é respeitado no mundo como nunca fora até então. Há um programa de desenvolvimento que promoveu as mudanças e, no próximo mandato, vai avançar. Os eleitores não vão trocar este programa marcado por êxitos pela pregação do falido medo que esconde o neoliberalismo. Vão eleger Dilma presidente.


(Editorial do Portal Vermelho

terça-feira, 27 de julho de 2010

Como ler os Afeganistão Papers

O The Guardian preparou uma especie de tutorial, um guia, completo sobre os documentos secretos e os crimes de guerra praticados pelo Estados Unidos da America (EUA). Quem é terrorista mesmo? 

Lamentavelmente, os nossos meios de comunicação, subservientes, limitam-se a procurar os culpados pelo vazamento das infomações.

Que sociedade queremos construir? É este o modelo de democracia que querem para o nosso País. Triste so que vivem a repetir o que leem  nesses meios. Hoje é necessário procurar informação nos meios alternativos. Ou seguir construindo a bomba mais destruidora: uma sociedade doente, injusta, neurótica, excludente. 

Como ler os Afeganistão Papers (tutorial em vídeo, em ingles). David Leigh, editor de investigações do Guardian, explica as ferramentas online que o jornal criou para auxiliar a navegação entre os arquivos agora divulgados. Veja o video:



Aqui o tutorial com farta documentação e reportagens: http://www.guardian.co.uk/world/datablog/video/2010/jul/25/afghanistan-war-logs-video-tutorial).
Fonte: Rede Castor Photo

A JUSTIÇA FALHA MAS NÃO TARDA!!

Do Flanar:
Mentira Tem Perna Curta?

Este cidadão, que muitos ainda chegaram a citar em seus complicados arrazoados para sustentar uma mal disfarçada disposição preconceituosa anti-Lula, está saindo do país. Nada contra o exercício salutar da crítica a um presidente, imperador ou qualquer coisa que o valha. Mas utilizar os escritos de um elemento que fez história e fama construindo factóides, associado a uma máquina azeitada nesta empreitada, (que PHA batizou de PIG), está muito além do aceitável. 
 
Diogo Mainardi, apesar de tudo, deu sim sua contribuição ao país. Ao menos assim espero. E qual seria a potencial contribuição deste indivíduo? Ensinar a quem se apressa em rechear seus argumentos contra ou a favor de quem quer que seja, citando qualquer "informação", mesmo que reles, que sirva aos seus propósitos e predisposições inconfessáveis, sem aplicar-lhe o salutar filtro do desconfiômetro.


http://blogflanar.blogspot.com/2010/07/mentira-tem-perna-curta.html?spref=bl

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A VIDA INVISÍVEL

A eloquencia de um menino palestino de 9 anos, que
 fala sobre a vida que não vemos do outro lado da tela.
Com legendas em inglês.

Não bastarão leis para proteger as mulheres se as suas vozes não forem ouvidas

NOTA À IMPRENSA: Caso Eliza Samudio



A Secretaria de Politicas para Mulheres (SPM) lamenta que, às vésperas da Lei Maria da Penha (11.340/06) completar quatro anos de existência, o Brasil esteja presenciando casos de tamanha crueldade e violência como o de Eliza Samudio e Mércia Nakashima. Também é triste constatar a não aplicação desta Lei por parte de seus operadores, uma vez que foi criada especificamente para proteger as mulheres vítimas da violência doméstica.
(Fotografia de Teresa Maia)                       

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Notas biográficas de um canalha, por Sebastião Nery

A estranha história de Roberto Freire

Sebastião Nery
Data incerta e não sabida

O único político brasileiro da oposição (que se diz da oposição) que aplaudiu José Serra, o Elias Maluco eleitoral, por ter anunciado que agora é hora de destruir Lula, foi o senador Roberto Freire, presidente do Partido Popular Socialista (PPS, a sigla que sobrou do assassinato do saudoso Partido Comunista, melhor escola política brasileira do século passado). Disse: "Serra presta um serviço à democracia".

Para Roberto Freire, "desconstruir", destruir, eliminar o principal candidato da oposição e das esquerdas (com 42% nas pesquisas) é um "serviço à democracia". Gama e Silva nunca teve coragem de dizer isso. Armando Falcão também não. Nem mesmo Newton Cruz. Só o delegado Fleury. Ninguém entendeu. Porque não conhecem a história de Roberto Freire.


Aprovado pelo SNI 

Em 1970, no horror do AI-5, quando tantos de nós mal havíamos saído da cadeia ou ainda lá estavam, muitos sendo torturados e assassinados, o general Médici, o mais feroz dos ditadores de 64, nomeou procurador (sic) do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) o jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freire, de 28 anos.

Não era um cargozinho qualquer, nem ele um qualquer. "Militante do Partido Comunista desde o tempo de estudante, formado em Direito em 66 pela Universidade Federal de Pernambuco, participou da organização das primeiras Ligas Camponesas na Zona da Mata" (segundo o "Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro", da Fundação Getulio Vargas-Cpdoc).

Será que os comandantes do IV Exército e os generais Golbery (governo Castelo), Médici (governo Costa e Silva) e Fontoura (governo Médici), que chefiaram o SNI de 64 a 74, eram tão debilóides a ponto de nomearem procurador do Incra, o órgão nacional encarregado de impedir a reforma agrária, exatamente um conhecido dirigente universitário comunista e aliado do heróico Francisco Julião nas revolucionárias Ligas Camponesas?

Os mesmos que, em 64, na primeira hora, cassaram Celso Furtado por haver criado a Sudene, cataram e prenderam Julião, e desfilaram pelas ruas de Recife com o valente Gregório Bezerra puxado por uma corda no pescoço, puseram, em 70, o jovem líder comunista para "fazer" a reforma agrária.

Não estou insinuando nada, afirmando nada. Só perguntando. E, como ensina o humor de meu amigo Agildo Ribeiro, perguntar não ofende.

Sempre governista

sábado, 10 de julho de 2010

MARY E MAX - UMA AMIZADE DIFERENTE



Iguais e diferentes, por Cloves Geraldo, no Vermelho

Animação do diretor australiano Adam Elliot trata de amizade e frustrações que as estruturas sociais causam às pessoas

As vidas de dois seres quase improváveis permitem ao diretor australiano Adam Elliot discutir as relações sociais nos tempos atuais. A partir da história real da garota australiana Mary Dinkle, 8 anos, e do estadunidense Max Horovitz, 44 anos, ele se vale da animação para estruturar sua narrativa, centrada em estados de espírito, visões de mundo, desencontros amorosos, compulsão consumista e, sobretudo, amizade entre eles. Uma história que atravessa 20 anos, entre altos e baixos, retraimento e fuga da realidade com que ambos se deparam, para manter vivas suas expectativas.

Elliot, responsável pelo roteiro, direção e animação, estrutura a narrativa de modo a que o espectador não perceba que está diante de personagens que agem como pessoas reais. Vale-se das vozes dos atores Toni Collete (Mary), Philip Seymour Hoffman (Max) e Eric Bana (Damian) para torná-los críveis, próximos dele, espectador. Diferentes das dublagens das animações tradicionais que enfatizam encantamento e medo, jogando com suas emoções.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Quando o machismo e o preconceito pautam a cobertura jornalística

Quando o machismo e o preconceito pautam a cobertura jornalística


É impressionante como em época de campanha eleitoral muitas pessoas deixam de lado o respeito e a ética profissional e se entregam a um jogo de baixarias, alimentando preconceitos que infelizmente ainda estão enraizados na cultura brasileira. Nesta quinta-feira, 8, o Blog do Josias de Souza, da Folha de São Paulo, publicou uma charge do cartunista Nani carregada de preconceito e refletindo um pensamento dos mais machistas e sexistas que se pode ter.
A charge, pegando gancho na substituição no TSE do programa de governo pro-forma da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, traz a petista como uma garota de programa, em uma esquina rodando bolsa, e dizendo: “o programa, quem faz são os fregueses; PMDB: Barba, cabelo e bigode; PDT: papai e mamãe. E vai por aí…”. O título da postagem evidencia a intenção pejorativa da mesma: “Candidata de programa”, não deixando dúvida nenhuma de que o desenho ali expresso reflete uma avaliação depreciativa de quem o fez e também de quem o reproduziu.
Há que se deixar claro aqui uma coisa: o problema não está em comparar Dilma a uma garota de programa, pois não há nada de errado na profissão destas mulheres. O que se critica veementemente aqui é, como muito bem dito por um colaborador deste blog, a “exploração do preconceito” que existe na sociedade contra as prostitutas. Ao sugerir a comparação da candidata com as garotas de programa, a charge revela a pior espécie de “humor”, se é que se pode chamar assim: aquela embasada no preconceito, no machismo e no sexismo, pois há a intenção de diminuir tanto as garotas de programa quanto a candidata.

Machismo alimentado pela imprensa
O machismo, infelizmente ainda arraigado na nossa sociedade, também se faz presente na política. Basta lembrarmos o discurso sexista do então candidato a prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (na época do PPB), em 2000, contra a sua oponente Marta Suplicy (PT). Naquela ocasião, Maluf cunhou a expressão depreciativa “Dona Marta”, querendo dizer nas entrelinhas que lugar de mulher era na cozinha e não na política. Outras tantas vezes naquelas eleições municipais, Maluf ridicularizava a formação acadêmica de Marta Suplicy (a petista é formada em Psicologia com pós-graduação em sexologia), chegando ao ponto de ter chamado a sua adversário de “devassa”.
Passados dez anos, o preconceito não desapareceu. Basta lembrarmos os bordões da oposição e da imprensa logo no início deste ano, que diziam que Dilma era um “poste”, revelando, com isso, uma nítida intenção de dizer que ela era mais uma mulher que estava na “garupa” de um homem, no caso o presidente Lula. O próprio candidato do PSDB ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse uma infeliz frase em junho deste ano: que o Brasil não pode ser administrado por alguém que “anda de carona” com outro. Que não haja engano: por trás dessas afirmações existe uma carga enorme de machismo, da convicção de que a mulher não está preparada para liderar e ser Presidente da República.

domingo, 4 de julho de 2010

O Famigerado Comunista

O FAMIGERADO COMUNISTA

por Leila Jinkings

 

Éramos cinco, todos menores de dez anos, em 1964. Na rua onde morávamos, tinha de tudo: comunistas, fascistas, contrabandistas e sabe-se lá mais o quê. Na esquina, os filhos de um juiz xingavam quando passávamos: “Ei, filhos de comunista!”. A princípio nem sabíamos de que éramos xingados, mas logo fomos a meus pais saber o que era comunista.

 
Meus pais explicaram mostrando reportagens com fotografias e entendemos que comunistas lutavam ao lado do povo, eram solidários. Era bom ser COMUNISTA.  Ficamos muito orgulhosos de sermos filhos de comunista. Papai, sempre brincalhão, sugeriu que poderíamos responder a eles dizendo que eram filhos de fascista.

 
À tarde saímos para a rua armados, prontos para o embate. Todas as tardes passeávamos de bicicleta ou íamos para a praça, sempre passando pelo território inimigo.

 
- Ei, filhos de comunista!

 
- Tu é que és filho de fascista! Filho de fasciiistaaaa!

  

Veio o Golpe de 1964 e papai “viajou”. Nossa rotina não mudou: escola pela manhã, trabalho escolar até 4 da tarde e depois rua, além, claro, da guerra com os reacionários (essa palavra também aprendemos com papai e mamãe).

 

Havia na rua um colega nosso que brincava de bicicleta e “pega ladrão”, cujo pai era reacionário. Ele, nesse dia, chegou excitado e foi logo se dirigindo a nós. Estávamos os quatro irmãos mais velhos e dois primos de nossa idade - Huáscar e Bolívar.  Falou: “O pai de vocês, ó: (fez um quadrado com os dedos da mão, significando xadrez, cadeia) tá preso. Pegaram ele lá no Rio de Janeiro.”

 
Corremos para casa a perguntar a mamãe se era verdade o que havíamos escutado. Mamãe explicou que não era verdade. Aquilo eram apenas boatos que os milicos inventavam para fazer terrorismo com os familiares dos comunistas.

 
Mas, no dia seguinte, o mesmo colega, apesar de ter “pegado uma carreira” dos meus primos, veio com nova história: “Olha, o pai de vocês foi assassinado, ele fugiu e levou bala lá na Cinelândia. Estava vestido de estudante.”

 
Fomos chorando para casa e mamãe tentou nos tranquilizar. Nas rádios e na televisão, no entanto, os repórteres davam a notícia e os mais excitados se referiam a ele como o “famigerado comunista Raimundo Jinkings”. Ela falou que ia telefonar para meu pai e que ele falaria conosco. Mais tarde ela nos avisou que papai viria nos visitar, mas em segredo, pois os milicos queriam prendê-lo porque lutava para que os pobres tivessem os mesmos direitos que nós.

 
À noite, mamãe nos chamou para o quarto que ficava nos altos e dava para o quintal. Foi muito emocionante encontrar o papai, que nos aguardava. O quarto estava na penumbra, não se podia acender a luz. Talvez houvesse um abajur ou uma vela, pois podíamos enxergar muito bem o papai. E, mais importante, senti-lo. Ele nos abraçou muito, apresentou o camarada que o acompanhava e falou que estava tudo bem, mas que ele estava escondido para que os milicos não o pegassem, porque ele era amigo de Jango e dos comunistas.

 
Ele estava vestindo um macacão de operário, tinha os cabelos crescidos e estava barbado. Carinhosamente, nos tirou as dúvidas e fez as recomendações que qualquer pai faz, do tipo “sejam obedientes”, “ajudem sua mãe”, além das que só um pai como ele faria: falou que não precisava explicar nada para ninguém e nem deveríamos contar que ele nos visitara, para que não pressionassem a mamãe. E que o importante era que estaria sempre em contato conosco por meio da mamãe.

 
Jamais esqueci esse momento. Me senti companheira e amiga do meu pai. Muito orgulhosa dele, da sua coragem e da sua generosidade.

  

Leila Jinkings


original no Blog do Raimundo Jinkings

sábado, 3 de julho de 2010

A Cela Seis

A torre das donzelas

Como era a vida de Dilma Rousseff na masmorra que abrigava presas políticas durante o regime militar no presídio Tiradentes
por Luiza Villaméa e Claudio Dantas Sequeira

Durante quase três anos, Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência da República, morou na Torre das Donzelas. A construção colonial não pertencia a nenhum palácio. Encravada no presídio Tiradentes, em São Paulo, ganhou o singelo nome por abrigar presas políticas do regime militar. Para chegar à Torre, Dilma e suas companheiras atravessavam um corredor com celas em uma das laterais. Os cubículos eram ocupados pelas corrós, as presas correcionais, tiradas de circulação por um mês, em geral por vadiagem ou prostituição. Essas mulheres costumavam ficar seminuas ou com a roupa virada pelo avesso, para se apresentarem em trajes limpos quando liberadas.
“Terrorista! Linda! O que você está fazendo aqui?”, gritavam as corrós ao verem passar uma nova presa política. Depois do corredor, havia um pequeno pátio. Em seguida, vinha a Torre. Dilma atravessou o corredor das corrós em fevereiro de 1970, aos 23 anos, após mais de 20 dias nos porões da repressão política. “Ela chegou fragilizada pela tortura, mas logo se recuperou”, lembra a jornalista Rose Nogueira, 64 anos, que passara pelo mesmo processo três meses antes.
Ao entrar pela primeira vez na Torre, Dilma viu as celas pequenas do térreo e duas escadarias laterais que saíam de uma espécie de hall e se encontravam no piso superior. Nesse andar, havia a cela 4, chamada de celão, pois se espalhava por 80 metros quadrados. Tinha também a cela 5, mais tarde adaptada como cozinha, e a 6, que Dilma dividiu com outras mulheres. “No começo, ficávamos na tranca o tempo todo”, conta a advogada Maria Aparecida Costa, a Cida Costa, 65 anos, uma das ocupantes da cela 6. Depois de algumas semanas e muitas reivindicações, as celas passaram a ficar abertas durante o dia.
Não demorou para que as donzelas da Torre se agrupassem, primeiro com base nas organizações clandestinas às quais pertenciam no “mundão”. Porque a Torre, no vocabulário das presas, era o “mundinho”. Mas as afinidades pessoais também contavam muito, como relata a médica e pesquisadora Guiomar Silva Lopes, 66 anos. “No mundão, o vínculo era de vida e morte”, diz Guiomar. “Na cadeia, estabelecemos uma relação de confiança inabalável.” Dilma é até hoje lembrada pelo espírito solidário. Durante um período, cuidou de uma estudante de arquitetura. “Quando a menina chegou da tortura, estava muito desestruturada emocionalmente”, afirma a advogada Rita Sipahi, 72 anos. “A Dilma ficou de olho nela o tempo todo para evitar que cometesse algum desatino.”
Com a possibilidade de circular entre as celas, as presas políticas tentavam curar as feridas umas das outras e também se organizavam. Havia escala para as tarefas da limpeza e da cozinha. Com os víveres levados pelas famílias, elas preparavam as próprias refeições. Algumas conseguiam bons resultados, embora só contassem com dois fogareiros elétricos. Outras, nem tanto. A dupla mais desastrada na cozinha era formada por Dilma e Cida. “Não dominávamos a arte do tempero”, reconhece Cida. Numa ocasião, as duas resolveram caprichar no preparo de um prato de legumes. Acabaram servindo uma sopa de quiabo intragável. “Ficamos um pouco frustradas com o resultado, pois havíamos nos esforçado.”
Dilma se sobressaía nos grupos de estudo. “Ela é muito engenhosa na macroeconomia”, elogia outra companheira da Torre, a economista Diva Burnier, 63 anos. Na cadeia, Dilma, que abandonara a faculdade por causa da clandestinidade, dava aulas de economia para as colegas e participava dos debates. Num deles, defendeu a ampliação dos limites marítimos do Brasil. “Embora fosse uma iniciativa dos militares, Dilma apoiava, pois acreditava ser uma questão de soberania”, recorda Rose. “Hoje é fácil perceber a importância daquela decisão, tanto por causa da biodiversidade como pelo pré-sal.”
Aos 82 anos, a advogada Therezinha Zerbini, mulher do general Euryale de Jesus Zerbini, cassado em 1964, também recorda de Dilma com admiração. Presa na Torre durante o ano de 1970, Therezinha se destacava tanto pela origem quanto por ser uma senhora entre a população carcerária extremamente jovem. “As amigas dela me chamavam de ‘burguesona’ e ela me defendeu. Ela tinha uma liderança nata”, diz Therezinha. Quando precisava, Dilma endurecia. No final do ano, Therezinha estava bordando o vestido que a filha usaria no Réveillon quando um grupo de militares a procurou. “Acho que queriam me convencer a entrar num programa de arrependidos”, diz, referindo-se aos presos que foram à tevê renegar a opção pela resistência ao regime. “Não quis atendê-los. Eles voltaram mais tarde e, quando eu estava mandando-os ir embora, a Dilma gritou: ‘Dá duro neles, Therezinha. Se precisar, nós colocamos todos para fora’ .”
Naqueles tempos, a atitude desafiadora só seria possível mesmo no presídio Tiradentes. Como muitos torturadores costumavam repetir durante as sessões que promoviam, o Tiradentes “era o paraíso”. Isso porque, ao entrar no presídio, a pessoa estava com a prisão reconhecida pelo Estado. Às vezes, era levada para interrogatórios em outras instituições, mas praticamente não corria risco de morrer ou “desaparecer”. Na escala macabra estabelecida nos porões do regime, a Operação Bandeirante (Oban) era o inferno, ficando o purgatório por conta da Delegacia Estadual de Ordem Política e Social (Deops). Como várias companheiras de cadeia, Dilma passou pelo inferno e pelo purgatório antes de chegar à Torre.
Por conta das sevícias, sofreu uma disfunção hormonal que levou anos para ser curada. Não perdeu, porém, o gosto pela vida. Com Cida, passava horas lendo os livros de ficção científica. Quando o rodízio do único aparelho de tevê da Torre caía em sua cela, entrava na madrugada vendo os filmes da sessão “Varig, a dona da noite”. Aprendeu até a bordar. “Ela fez uma tapeçaria com flores coloridas, que colocamos na parede”, lembra Rose. Na Copa do Mundo de 1970, acompanhou os jogos de perto. “A Dilma torceu muito pela Seleção Brasileira”, diz a socióloga Rosalba de Almeida Moledo, 66 anos.
No período em que o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo, seu companheiro, permaneceu encarcerado no Tiradentes, Dilma se comunicava com ele com a ajuda dos presos comuns. A rota usada por ela e outras presas políticas consistia em baixar mensagens por meio de uma corda artesanal, chamada “teresa”, para a carceragem dos “comuns”, que ficava embaixo da Torre. “De cela em cela, as mensagens chegavam ao destinatário, na ala dos presos políticos”, comenta Guiomar. “O recurso também era fundamental para sabermos o que estava acontecendo lá fora.”

Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes traduzido para o guarani

Uma das mais importantes obras da literatura, Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes recebeu a primeira tradução para o guarani, a segunda língua mais falada no Paraguai. O autor da quixotesca tarefa foi o escritor paraguaio e especialista em guarani, Félix de Guarania, que levou oito anos para concluir a tradução. Com 84 anos e longas barbas brancas, contou com a colaboração do jornalista e poeta paraguaio Mario Rubén Álvarez.
Exilado na União Soviética em 1968, Felix de Guarania traduziu Maiakovski para o guarani e ensinou o idioma para professores. Traduziu Shakespeare, José Martí, José Hernandez (Martín Fierro) e diversos outros, passando pelo hino da Internacional Socialista.



Fonte:
http://e-educador.com/index.php/educultura/4901-guarani

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O caso Gabriel Pimenta


O caso Gabriel Pimenta: impunidade

Em 17 de outubro de 2008, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) admitiu o caso Gabriel Sales Pimenta contra o Estado Brasileiro. O relatório de admissibilidade nº. 73/08 foi o resultado de denúncia apresentada pelo Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) da diocese de Marabá em 8 de novembro de 2006.
Os fatos remontam a 1982, quando o advogado e defensor de direitos humanos Gabriel Sales Pimenta foi assassinado em Marabá num contexto de violência relacionado com os conflitos da luta pelo acesso à terra.
Representante legal do STR-Marabá e sócio fundador da Associação Nacional dos Advogados dos Trabalhadores da Agricultura, Gabriel Pimenta foi o primeiro advogado da história de Marabá a conseguir cassar, no Tribunal de Justiça do Pará, liminar “ilegal e abusiva” desta comarca que havia permitido a expulsão das 158 famílias das terras de “Pau Seco” e, consequentemente, a reintegração de todas elas ao lote.
Após várias ameaças de morte por parte do fazendeiro que se afirmava proprietário de Pau Seco, Gabriel foi morto a tiros em 18 de julho de 1982. Baseando-se em evidências apuradas, o inquérito policial concluiu que o fazendeiro Manoel Cardoso Neto (Nelito) foi o mandante do crime, tendo como intermediário José Pereira da Nóbrega (Marinheiro) e executor Crescêncio Oliveira de Sousa, o pistoleiro Ouriçado. O processo criminal começou em 1983, arrastou-se por longos 23 anos e nenhum dos acusados foi a júri popular. Em 2006, após a prisão de Nelito, então foragido, o Tribunal de Justiça decretou a extinção do processo em razão de prescrição. Ou seja, o processo se encerrou com o triunfo da impunidade.
Íntegra aqui no Quaradouro.

BRASIL NUNCA MAIS

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