sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Abelha Operária - Celeste Vidal

de Celeste Vidal, publicada em 1994 no livro Metade Sol, Metade Sombra

Às mulheres que se organizam

Sim, eu sou uma mulher liberada,
e daí?
se me perguntas, no entanto, és livre?
Eu te respondo, nem tanto.


Ouço esse grito perto e distante
esse soluçar constante
a ecoar no mundo.
Vejo tanto olhar perdido,
corpos sofridos
a estenderem as mãos.


A liberdade não é no singular
é soma de tudo, de todos,
é plural, a começar assim:
por mim, por ti, por nós.
Liberada eu sou, mas não foi fácil,
não é fácil, nem vai ser facilmente.
conquistada a libertação da mulher.
Eu consegui, mas não sou nada especial
nem coisa rara, nem iluminada,
só muito diferenciada
de você mulher passiva, acomodada,
conscientemente, ou não, explorada,
esperando, ou não, acontecer.
Eu, ao invés de me limitar a ver
quis olhar,
em vez de só poder ouvir
resolvi falar,
em vez de só poder tocar
resolvi sentir profundamente,
em vez de ter meu corpo indisposto
mas pronto para uso,
me fiz dona de mim,
e este abuso
não vai mais acontecer.
(continue a leitura, vale muito a pena)


Brindes à mulher "Santa-mãe",

"esposa-fiel", "dona-de-casa -exemplar"...
sempre foram erguidos
em taças de fel...
Me fiz abelha operária
fabrico o meu mel
com o suor do meu corpo
e calos nas mãos.
Me desmontei
me desfabriquei.
Juntei meus pedaços
de ferro e aço e joguei-os no lixo,
deixei de ser robô.

Nas dores que nos são iguais,

me refiz mulher,
e como foi difícil erguer a mão
e mais difícil ainda
ensinar, a minha boca,
a palavra não!

Os alienados do Sistema Capitalista

dizem que isso é contra o homem,
o homem é nosso irmão, amigo,
marido, amante, companheiro;
o seu dinheiro-ajuda?
- ajuda nosso pão.
É ajuda comunhão.
o que fiz?!
Foi queimar, rasgar dogmas, tabus e
preconceitos,
exigir direitos,
passar por cima da discriminação
que diz: homem é homem
mulher é mulher,
e que o homem tudo pode;
sacodem sobre nós a honra e a moral falsas que
nos impõem os hipócritas cristãos.

Não!

Dividi tudo em partes iguais:
tudo o que o homem faz
a mulher dignamente é capaz!

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