por Leila Jinkings
Bom seria se alguns professores menos atentos deixassem de reproduzir a versão antiga da fábula atrasada, preconceituosa e burra. Os educadores mais sensíveis usam os recursos de contos, jogos e brincadeiras, estimulados pela boa literatura infantil que trás reflexões, que ampliam o alcance do imaginário, que ensinam valores, que socializam, que forjam pessoas mais solidárias, mais tolerantes e, principalmente, capazes de superar a rudeza da atual educação, que mais valoriza a formação de consumidores, poupadores e outras distorções do sentido da vida humana.
O mundo não suporta mais
a centralidade da competição, do individualismo. Que gente estúpida eles querem
formar. Reflitamos: estamos nos tornando melhores pessoas? Que mundo nós
vamos querer deixar para os nossos filhos? Vamos ficar "esperando a
morte chegar? Sentados no trono de um apartamento, com a boca escancarada,
cheia de dentes? Se sentindo um grandessíssimo idiota, limitado, que só usa 10%
da sua cabeça animal? E ainda acreditando que está contribuindo para o belo
quadro social?" * A gente merece
mais. Pessoas melhores podem fazer o
mundo melhor.
Viva a arte! Viva o ócio!
Uma banana para a indústria cultural massificadora. Uma banana para quem
não valoriza a arte.
* de Ouro de Tolo, Raulzito.
transcrito do livro Fábulas:
A Cigarra e a Formiga, Monteiro Lobato
A cigarra e a formiga - A formiga boa
Houve uma jovem cigarra que tinha o costume de chiar ao pé dum formigueiro. Só parava quando cansadinha; e seu divertimento então era observar as formigas na eterna faina de abastecer as tulhas
.Mas o bom tempo afinal passou e vieram as chuvas. Os animais todos arrepiados, passavam o dia
cochilando nas tocas.A pobre cigarra, sem abrigo em seu galhinho seco e metida em grandes apuros, deliberou socorrer-se de alguém.Manquitolando, com uma asa a arrastar, lá se dirigiu para o formigueiro.
Bateu-tique, tique, tique.Aparece uma formiga friorenta, embrulhada num xalinho de paina
.-Que quer?- perguntou, examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.-Venho em busca de agasalho. O mau tempo não cessa e eu...A formiga olhou-a de alto a baixo.-E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu, depois de um acesso de tosse:-Eu cantava, bem sabe...-Ah!... exclamou a formiga recordando-se. Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós labutávamos para encher as tulhas?-Isso mesmo, era eu...-Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre: "que felicidade ter como vizinha tão gentil cantora!" Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.Monteiro Lobato.
faina - acúmulo de serviços
tulhas- celeiros paina - fibra sedosa
A FORMIGA MÁ -
Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube compreender a cigarra e com dureza a repeliu de sua porta.Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com seu cruel manto degelo.A cigarra, como de costume, havia cantado sem parar o estio inteiro e o inverno veio encontrá-la desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se nem folinha que comesse.
Desesperada, bateu à porta da formiga e implorou - emprestado, notem! - uns miseráveis restos de comida. Pagaria com juros altos aquela comida de empréstimo, logo que o tempo o permitisse.Mas a formiga era uma usurária sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar,tinha ódio à cigarra por vê-la querida de todos os seres.- Que fazia você durante o bom tempo?- Eu... eu cantava!...- Cantava? Pois dance agora, vagabunda! - e fechou-lhe a porta no nariz.Resultado: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o som estridente daquela cigarra, morta por causa da avareza da formiga. Mas se a usurária morresse, quem daria pela falta dela?
http://pt.scribd.com/doc/36982147/A-Cigarra-e-a-Formiga-Monteiro-Lobato
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