Apurações da
Comissão da Verdade poderão levar a
processos contra agentes que cometeram abusos na ditadura
processos contra agentes que cometeram abusos na ditadura
Punição
perto de se tornar real
Júnia Gama (politica.df@dabr.com.br)
Maria do
Rosário: acesso a documentos será assegurado.
Imagem: PAULO DE ARAÚJO/CB/D.A
PRESS entrevista
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O governo modificou o tom cauteloso do discurso adotado em meados de
2011, quando ainda tentava aprovar a lei que cria a Comissão da Verdade.
Naquele momento, prevalecia a tese de que o colegiado teria efeitos tão
etéreos quanto a “efetivação do direito à memória”, o que gerou
resistências de setores ligados aos direitos humanos e de familiares de
vítimas. Agora, passados três meses desde a sanção presidencial que
criou o colegiado, começa a ser desenhada a perspectiva de punição real
para aqueles que tenham cometido crimes durante o período da ditadura
militar.
A ministra
da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse que as informações
reunidas pela comissão poderão dar origem a processos de condenações
semelhantes aos que ocorreram em países vizinhos. Ela observa que, na América
Latina, a iniciativa de revisão dos atos governamentais praticados durante
períodos autoritários não tiveram início com um caráter punitivo. No entanto, o
clamor social fez com que resultassem em amplos processos de condenação, como o
que ainda ocorre na Argentina, onde mais de 200 agentes repressores já foram
punidos. “Reconhecemos legítimo quando a sociedade propõe e luta no sentido da
responsabilização criminal”, diz a ministra.
Para Gilda
Carvalho, procuradora federal dos Diretos do Cidadão, o Ministério Público deve
encaminhar denúncias a partir de informações levantadas pela comissão que
contenham fatos criminosos. Ela sustenta, inclusive, que a Lei de Anistia não
será empecilho para futuras condenações aos repressores. “Nós somos signatários
de uma convenção internacional sobre direitos humanos que, hierarquicamente,
está acima dessa legislação ordinária. Os tribunais brasileiros não podem dar a
última interpretação sobre tratados firmados pelo país em âmbito
internacional.”
Entrevista
Reporter - Quais serão
os resultados práticos da Comissão da Verdade?
Rosário - Ela não terá
papel jurisdicional ou punitivo. Mas as informações que ela vai buscar e
organizar, inclusive sobre as circunstâncias de mortes, de tortura e de
responsáveis, efetivamente poderão ser utilizadas para movimentar procedimentos
de natureza jurídica pelo Ministério Público.
Reporter - A
confirmação da Lei de Anistia pelo STF pode ser um empecilho para isso?
Rosário - Não. Esse é
um debate que vai ter que ser travado entre o MP, a sociedade e o Poder
Judiciário. Para fazermos avançar a Comissão da Verdade, tivemos que fazer uma
opção política. Se tivéssemos centrado a construção da comissão na
responsabilização criminal, não teríamos avançado.
Reporter - O Brasil
pode chegar a um processo de condenações, como em países vizinhos?
Rosário - Perfeitamente.
Nenhum país entre os quase 40 que tiveram uma comissão da verdade teve em sua
primeira agenda a responsabilidade criminal. Na Argentina, começou pela busca
de informações. E, depois, a sociedade, indignada, reagiu àquilo, exigindo
mais.
Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/2012/02/12/politica9_0.asp
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