domingo, 28 de agosto de 2011

Do jeito que a coisa vai indo o Pará e Belém será uma vila de pescadores, ou uma cidade dormitório

por Amarílis Tupiassu

Indigna já só a ideia de reduzir o Pará a Belém e Zona do Salgado. Coisa de político-forasteiro mal-agradecido. O cara chega à casa alheia, que o acolhe com hospitalidade, e se revela um aproveitador. Entra, fuça a geladeira, abanca-se no melhor sofá, escancara as portas dos quartos, e a gente sabe: é um folgado. Chora, estremece por seu estado de nascença, enquanto explora e desdiz do Pará, de que só pensa em chupar tudo, até o Estado inteiro, se deixarmos.
O retalhador do estado (dos outros) chega e se espalha feito água.
Abanca-se, invade a cozinha, destampa, tem o desplante de meter o dedo na panela, antes do dono da casa, lambuza as mãos, lambe os dedos. Como nós, os paraenses somos cordiais, ele confunde cordialidade com liberalidade.
Vem, vai ficando, mergulha de unhas e garras afiadas em terras e política.
Espalhado, o aproveitador, pronto, enriqueceu, encheu a pança. Fez-se
fazendeiro, político de muito papo (balofo), o cara de pau. Alguns não
dispensam trabalho escravo e agora dão de posar de redentores da miséria do
Pará, como se só no Pará houvesse miséria. E cadê? Ih, já nas altas cúpulas,
armando discórdia, querendo porque querendo dividir o estado do Pará, disque
porque é estado imenso e pobre, como se os miniestados brasileiros fossem
paradisíacos reinos de felicidade, nenhum faminto sem teto, nenhum drogado,
saúde e escola nos trinques, nada de tráfico e exploração de menores. Balela
de retalhador! O retalhador (do estado alheio) tem no cérebro sinal de
divisão. Só quer dividir, não seu estado, onde o espertalhão não conseguiu
levantar a crista.
No Pará, não se contenta em ser fazendeirão, explorador de miseráveis. Quero um estado pra mim, Assembléia Legislativa, rumas de assessores, Tribunal de Contas com obsceno auxílio-moradia, mesmo que eu tenha casa própria.
E o retalhador já quer governar o estado (dos outros), quer reino e
magnífica corte própria, algo comum nestas terras brasílicas dominadas por
quadrilhas de políticos cara de pau, porque os dignos, vergonha na cara, os
que lutam a valer por um Brasil de união, ordem e progresso, estes raros
políticos dão uma de éticos e não põem a boca no trombone.
Não, o Pará não é casa de engorda e enriquecimento de esquartejador da terra
dos outros. Mas o pior é que eles se juntam até a certos políticos
paraenses, que, em vez de dizer não decisivo e absoluto à divisão, ficam em
cima do muro. É que os muristas, paraenses também não são flor que se
cheire. Incrível que políticos paraenses admitam o roubo oficial das ricas
terras do Pará. Pendurados no muro, os muristas paraenses só pensam na
engorda de seus vastos currais e não em defesa e união. Sim, quem quer
esfacelar o Pará? Deputados de longe que lambem os beiços por se apoderar do Marajó, do Tapajós, de Carajás. Risíveis os argumentos separatistas: A imensidão do Pará impede seu progresso. Nada! Papo de político! É vasta a miséria dos estados pequenos e do Brasil mal governado.
Dividir vem da omissão de políticos do Pará, eles em ânsias por suas lasquinhas. Separatista daqui e de fora quer é feudo, castelo, mais poder. O mapa do Pará lembra um buldogue. Ele precisa de brio, amor-próprio, rosnar, se quiserem reduzi-lo em retalho. O Pará quer paz e união. Vamos calar os esquartejadores que boiam, do fracasso em seus estados, ao sonho de esfacelar o Pará.
Vamos dizer não a mais essa mutreta de político espertalhão.

Transcrito do Caderno Mulher de 'O liberal' - 13/12/09

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