A novela Amor e Revolução vai sofrer mudanças. A causa: a mercadoria que interessa, a audiência.
Já ouço coros: sabia que ia dar nisso, o que há por trás, etc etc etc
Não se pode, no entanto, tirar o mérito do acontecimento. A iniciativa do SBT e do autor Tiago Santiago, a novela sobre os anos de chumbo, provocou um debate impensável, reacendeu velhas cinzas. Não é pouco.
Lamentável a interferência, mas já estava demorando. A visão de Sílvio está ficando ainda mais curta. Acha que, conquistado um status, ele pode mexer e remexer e as pessoas vão deixar por menos.
Caberia ao autor recusar. A novela já tem um lugar garantido na História. Será objeto de estudos na academia, será referência mundial em matéria de literatura e de manifestação artística sobre os assassinatos e torturas, ainda hoje, sob o véu do silêncio e da impunidade. Se parasse hoje seria melhor do que se render às imposições do patrão.
Na novela falta dramaturgia, tem muito clichê, a direção deixa a desejar. Mas a História é muito boa e a causa maior ainda. O depoimento de gente que não tinha antes sua voz repercutindo na esfera pública colocada ao final de cada capítulo é algo impagável.
A temática LGBT foi contemplada sem falsos pudores, sem importar-se de estar ofendendo ou chocando os setores conservadores e/ou homofóbicos enrustidos. Isso foi, sim, um avanço. "Só quem sente essa opressão é que pode mensurar", disse-me uma amiga lésbica, entusiasmada pela novidade.
Tem pastelão, tem. Vai haver mais a mando do patrão. Mas não gosto de ver críticas mono angulares. Não vejo muita gente escrever com tanta gana sobre as baboseiras de pastelões nocivos - cheios de preconceitos ditos e implícitos - capitaneados pela Globo.
Eu prefiro dizer: valeu, Tiago. Foi bom enquanto durou.
Leila Jinkings , Recife, 16 de junho de 2011
Um comentário:
a iniciativa foi ótima... o autor está de parabéns pela coragem.
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