As portas do paraíso (revelações)
Jean-Luc Godard produziu um filme – Nossa Música (2004) – magistral sobre a pretensão norte-americana universal. Em uma de suas representações oníricas, os Marines – fuzileiros navais dos EUA – são os guardiões das portas do paraíso, filtrando quem pode entrar.
Luís Carlos Lopes
As últimas revelações obtidas ilegalmente e publicadas na Internet pela Wikileaks não deveriam causar o estupor público e privado que vêm acarretando. Governos e indivíduos por razões distintas têm demonstrado imenso dissabor e se articula, nos parâmetros da lógica da vingança, uma reação punitiva contra a organização e seu líder. O ilegal pode ter maior moralidade do que é apresentado como justo e indiscutível, na forma da lei.
Obviamente, os mais descontentes são os que foram atingidos diretamente, isto é, os êmulos da política externa dos EUA. Surgem das sombras as atividades de espionagem, as alianças secretas com personagens dos países periféricos que fazem jogo duplo e uma miríade de outros atores da mesma política. Tudo isto contado com o vigor de uma antiga forma de comunicação: o telegrama.
O teor destes pequenos textos, mesmo não sendo a versão final da posição dos EUA no mundo contemporâneo, indica o que os mais informados já sabiam. O gigante do Norte tem antenas em toda parte. Escuta o que seus aliados nos governos de cada país dizem, vigiam as nações, tal como cães de guarda, e interferem ou tentam interferir na política interna de cada país.
Jean-Luc Godard produziu um filme – Nossa Música (2004) – magistral sobre a pretensão norte-americana universal. Em uma de suas representações oníricas, os Marines – fuzileiros navais dos EUA – são os guardiões das portas do paraíso, filtrando quem pode entrar. Deixa-se para o leitor imaginar quem são os eleitos, de acordo com este grande país, que a humanidade espera que um dia acene para a paz e para o entendimento entre os homens e mulheres da face da Terra.
Por mais que se tente esconder, o impacto é imenso. Comprova-se o que os engajados sempre souberam e ficou difícil, agora, dizer que é exagero ou mentiras ideologizadas. Quem fala são os operadores da política externa norte-americana. Os seus lugares de fala são órgãos públicos que devem obediência ao poder central. O que escreveram não era para ser lido fora do domínio interno. Possivelmente, a maioria destes telegramas seria destruída depois de ter cumprido o seu papel. Alguns seriam recolhidos ao magnífico Arquivo Nacional do país e liberados depois de, em média, trinta anos.
O problema da autenticidade destes papéis não foi levantado, até porque é difícil imaginar que não tenham saído da máquina pública. Quem os revelou é alguém que pertence a este mesmo mundo e que não está de acordo com seu governo. Não é a primeira vez que isto ocorre. É possível comandar guerras, influenciar governos e deter a hegemonia política do mundo. Entretanto, não é possível controlar completamente a consciência de todos. Sempre haverá alguém com um profundo senso humanístico que arrisque sua pele e encontre um modo de dizer a verdade.
O exame destes papéis está longe de ter terminado. E, ao que parece, virão outros em seguida, falando sobre novos e velhos assuntos. A crença subjacente a estas revelações é que não existe democracia real sem se ter acesso aos bastidores do poder. Democratizar é também tornar públicas as informações usadas para oprimir nações e preparar ou manter guerras injustas. O problema não está no método usado para se obtê-las e divulgá-las. O mais importante são os temas abordados nestes já famosos telegramas e suas implicações éticas na convivência entre nações.
No Brasil, o patriotismo arrogante de alguns foi lançado ao chão. Viu-se que a bandeira e amor a pátria não é bem o que organiza a vida de atores do drama histórico brasílico. Agitam a bandeira nacional com força e dizem que estão do lado do poder público nacional. Entretanto, nas sombras comungam com outros deuses, aceitando inclusive informar ao diabo o que se passa neste pedaço da Terra e da humanidade. São patriotas de araque, vendidos aos que têm maior poder na escala mundial. Isto é um problema da consciência deles e que ocorrerá em seguida, só deus sabe.
Obviamente, os mais descontentes são os que foram atingidos diretamente, isto é, os êmulos da política externa dos EUA. Surgem das sombras as atividades de espionagem, as alianças secretas com personagens dos países periféricos que fazem jogo duplo e uma miríade de outros atores da mesma política. Tudo isto contado com o vigor de uma antiga forma de comunicação: o telegrama.
O teor destes pequenos textos, mesmo não sendo a versão final da posição dos EUA no mundo contemporâneo, indica o que os mais informados já sabiam. O gigante do Norte tem antenas em toda parte. Escuta o que seus aliados nos governos de cada país dizem, vigiam as nações, tal como cães de guarda, e interferem ou tentam interferir na política interna de cada país.
Jean-Luc Godard produziu um filme – Nossa Música (2004) – magistral sobre a pretensão norte-americana universal. Em uma de suas representações oníricas, os Marines – fuzileiros navais dos EUA – são os guardiões das portas do paraíso, filtrando quem pode entrar. Deixa-se para o leitor imaginar quem são os eleitos, de acordo com este grande país, que a humanidade espera que um dia acene para a paz e para o entendimento entre os homens e mulheres da face da Terra.
Por mais que se tente esconder, o impacto é imenso. Comprova-se o que os engajados sempre souberam e ficou difícil, agora, dizer que é exagero ou mentiras ideologizadas. Quem fala são os operadores da política externa norte-americana. Os seus lugares de fala são órgãos públicos que devem obediência ao poder central. O que escreveram não era para ser lido fora do domínio interno. Possivelmente, a maioria destes telegramas seria destruída depois de ter cumprido o seu papel. Alguns seriam recolhidos ao magnífico Arquivo Nacional do país e liberados depois de, em média, trinta anos.
O problema da autenticidade destes papéis não foi levantado, até porque é difícil imaginar que não tenham saído da máquina pública. Quem os revelou é alguém que pertence a este mesmo mundo e que não está de acordo com seu governo. Não é a primeira vez que isto ocorre. É possível comandar guerras, influenciar governos e deter a hegemonia política do mundo. Entretanto, não é possível controlar completamente a consciência de todos. Sempre haverá alguém com um profundo senso humanístico que arrisque sua pele e encontre um modo de dizer a verdade.
O exame destes papéis está longe de ter terminado. E, ao que parece, virão outros em seguida, falando sobre novos e velhos assuntos. A crença subjacente a estas revelações é que não existe democracia real sem se ter acesso aos bastidores do poder. Democratizar é também tornar públicas as informações usadas para oprimir nações e preparar ou manter guerras injustas. O problema não está no método usado para se obtê-las e divulgá-las. O mais importante são os temas abordados nestes já famosos telegramas e suas implicações éticas na convivência entre nações.
No Brasil, o patriotismo arrogante de alguns foi lançado ao chão. Viu-se que a bandeira e amor a pátria não é bem o que organiza a vida de atores do drama histórico brasílico. Agitam a bandeira nacional com força e dizem que estão do lado do poder público nacional. Entretanto, nas sombras comungam com outros deuses, aceitando inclusive informar ao diabo o que se passa neste pedaço da Terra e da humanidade. São patriotas de araque, vendidos aos que têm maior poder na escala mundial. Isto é um problema da consciência deles e que ocorrerá em seguida, só deus sabe.
Luís Carlos Lopes é professor e escritor.
Fonte: Carta Maior - Debate Aberto
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