Meias verdades e muita dissimulação no debate sobre a questão da descriminalização do aborto.Como se pode conferir na matéria reproduzida da revista TPM, a chefe de torcida e coordenadora da campanha de "massa" do candidato tucano Serra, confessa que praticou o aborto e que reconhece como uma questão de saude pública. Não estávamos em ano eleitoral.
A inquisição, sempre a chafurdar e a esperar uma oportunidade de acender a fogueira, cola nas forças que tem José Serra como a única chance de ressuscitar o autoritarismo e o arbítrio no País. Militares aposentados, torturadores de pijama, religiosos hipócritas, interesseiros e vendilhões demonizam os que entendem a questão como uma questão de estado, de saude pública. O Estado é laico. O fundamentalismo esconde interesses.
A inquisição, sempre a chafurdar e a esperar uma oportunidade de acender a fogueira, cola nas forças que tem José Serra como a única chance de ressuscitar o autoritarismo e o arbítrio no País. Militares aposentados, torturadores de pijama, religiosos hipócritas, interesseiros e vendilhões demonizam os que entendem a questão como uma questão de estado, de saude pública. O Estado é laico. O fundamentalismo esconde interesses.
A atriz Vera Zimmermann, a apresentadora Cynthia Howlett, a vereadora Soninha Francine e a VJ Penélope Nova já fizeram aborto. Um milhão de brasileiras passam pela mesma experiência todos os anos. Segundo nosso Código Penal, escrito em 1940, todas elas estão cometendo um crime. Vera, Cynthia, Soninha e Penélope tiveram a coragem de mostrar a cara porque são a favor da legalização do aborto. Nenhuma delas têm boas lembranças da experiência. Mas sabem que não é com ameaça de cadeia que vai se conseguir resolver o problema
Soninha Francine, 37, é vereadora em São Paulo e apresentadora da ESPN:
“Fiz um aborto quando fiquei grávida pela terceira vez. Tinha duas filhas, ainda não tinha entrado em contato com o budismo e meu casamento estava acabando. Já estava tudo muito difícil, não ia conseguir levar aquela gravidez adiante. Falei com uma amiga que já tinha feito, e ela me indicou o médico. Tinha muitas dúvidas, mas minha amiga me disse que passou pelas mesmas encanações e que, por isso, depois do aborto, pediu ao médico para ver o feto. Como estava com menos de cinco semanas de gravidez, a única coisa que ela viu foi sangue. Isso me tranqüilizou. Fui ao consultório, que era perto do metrô, no Largo da Concórdia. Meu marido foi comigo. Chegamos, entrei numa sala, e o médico raspou meu útero com uma espécie de colher. Demorou uns 15 minutos. Doeu, doeu, doeu e aí acabou. O médico perguntou se eu estava me sentindo bem e disse que eu podia ir embora. Na primeira menstruação depois do aborto tive hemorragia. Fui para a Beneficência Portuguesa. O médico que me examinou perguntou se eu estava grávida. Disse que tinha feito um aborto 15 dias atrás. Ele falou que talvez tivesse que fazer uma nova curetagem. Alguma coisa tinha dado errado. Fiz a curetagem, com anestesia, tudo como uma operação comum. O ultra-som acusou ‘restos de abortamento’, que merda. Passei uma noite no hospital e fiquei pensando que coisa grotesca eu tinha feito. Não queria que ninguém soubesse, estava com muita vergonha. Não era nem porque eu poderia ser presa, era vergonha mesmo. Hoje, tenho certeza de que não faria outro, mas naquela época foi muito decidido. O budismo, a religião que sigo, diz que você não deve tirar a vida de nenhum ser. Para o budismo, o feto, a célula fecundada, é um ser. Mas não há como negar: as pessoas fazem aborto. E, quanto mais escondido, maior o risco. Se você se espeta com uma agulha de crochê no banheiro da rodoviária é grande a chance de ter uma infecção. Então, a melhor coisa a fazer é tentar diminuir o número de vidas perdidas nesse processo. Para mim, não é o caso de uma defesa do tipo ‘cada um faz com o seu corpo o que quiser’. Não acho que a mulher é a dona do seu corpo e foda-se o que ela faz com ele. Mas o fato de ser considerado crime provoca inúmeras mortes, e isso não é bom. Acho que o ideal seria descriminar, mas sem liberar geral. Aborto é uma questão de saúde pública, mas deve ser tratado como exceção.”
Penélope Nova, 31, é VJ da MTV:
“Fiz aborto duas vezes. A primeira foi em 1989, com 15 anos. Na época, não se usava camisinha como hoje. Engravidei do meu primeiro namorado, com quem tinha perdido a virgindade. O namoro já havia acabado quando soube que estava grávida. Era muito nova e não via sentido em ter um filho naquelas circunstâncias. Meu ex só soube depois que eu já tinha feito o aborto. Não contei antes porque tive medo de que ele quisesse ter o bebê. A única pessoa que ficou sabendo foi minha mãe, que já morava na Itália, e sempre foi muito minha amiga. Decidi fazer com Cytotec, que na época era vendido em farmácias sem a necessidade de receita. Todo mundo sabia que aquele remédio para úlcera induzia o organismo a iniciar um processo de contrações similar a um aborto natural. Estava com cinco semanas e achei bem menos arriscado o remédio que o aborto em clínicas, mais invasivo. Depois de tomar, senti cólica por meia hora. Não tive hemorragia nem arrependimento, sei que foi a decisão certa. Não vejo sentido em ficar pensando como teria sido minha vida com um filho indesejado – e não gostaria de ser um. Provocar um aborto não é uma coisa natural, não é saudável e não é gostoso. Não acho que o aborto deva ser incentivado, mas também não cometi nenhum crime. É por isso que defendo a descriminação. E não apenas em meu nome, mas em nome das mulheres que vêem no aborto a única alternativa, a ponto de enfiarem uma tesoura na vagina para poder provocá-lo. A educação funciona, mas a médio/longo prazo. Quando a educação cumprir seu papel, o número de abortos vai cair naturalmente. As questões de cunho religioso/espiritual devem ser respeitadas tanto quanto o direito de ter ou não outras convicções. Aos 26 anos, optei pelo aborto uma segunda vez. Eu usava DIU e estava namorando há algum tempo, por isso transava sem camisinha. Dessa vez fui ao meu médico e disse que queria fazer um aborto. Mesmo ele não sendo pró-aborto, me orientou para tomar o Cytotec porque concordou que a pílula era menos invasiva que a intervenção. Mais uma vez, não me causou nenhum trauma. Fui prevenida, mas não tinha vontade de ter filho sem um pai presente. Não acredito que bastam condições financeiras. E não gostaria de ser mãe solteira, porque acho que a responsabilidade de gerar alguém vai além da capacidade de procriar. Já vivemos num mundo com gente estourando pela tampa e sequer sabemos até quando haverá água para todos.”
http://revistatpm.uol.com.br/revista/41/reportagens/descrimine-ja.html
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