domingo, 16 de maio de 2021

Raimundo Jinkings - verbete


 JINKINGS, Raimundo Antonio da Costa (Santa Helena, estado do Maranhão, Brasil, 5/09/1927 – Belém do Pará, estado de Pará, Brasil, 5/10/1995).

Foi um editor, livreiro, jornalista, sindicalista e dirigente comunista brasileiro.

Nascido em 5 de setembro de 1927 no município de Santa Helena (área rural do Maranhão), proveniente de uma família de origem humilde, Jinkings passou a infância em seu vilarejo natal, onde ajudava o pai cuidando do rebanho de bois e cabras. Além disso, também levava mercadorias para a mercearia do progenitor em Pinheiro, localidade próxima onde viviam duas tias que pouco depois o acolheram em casa no início da adolescência. Lá estudou e trabalhou como ajudante de alfaiate e de sapateiro. Aos 17 anos, mudou-se para a capital do estado, São Luís, cidade em que exerceu a atividade de vendedor numa loja de tecidos, ao mesmo tempo em que dava continuidade aos seus estudos numa escola noturna.

Decidiu viver em Belém (Pará) em 1945, aos 18 anos de idade, alistando-se na Força Aérea Brasileira (FAB). Com o término do serviço militar, já com a patente de cabo, trabalhou como enfermeiro no hospital da Aeronáutica. Em 1950, passou no concurso para o Banco de Crédito da Amazônia, que mais tarde mudaria de nome para Banco da Amazônia, também conhecido como BASA (no qual ingressou como escriturário em 1951), formou-se no ginasial e foi eleito secretário-geral do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Pará (ele foi um dos fundadores daquela agremiação no estado, junto com jornalista, professor e advogado trabalhista Cleo Bernardo de Macambira Braga). O passo seguinte foi entrar para o tradicional “Colégio Estadual Paes de Carvalho”, com o objetivo de cursar o secundário.

O ano de 1952 foi importante para o jovem dirigente socialista, já que teve atuação destacada na luta dos bancários; como organizador do I Congresso Regional Norte de Defesa do Petróleo (vinculado à campanha “O petróleo é nosso”); e como periodista, escrevendo matérias polêmicas em publicações como Folha do Norte, Flash e Estado do Pará (Jinkings foi o primeiro jornalista condenado por crime de imprensa no Pará, por denunciar a corrupção do delegado geral do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) no estado, Moacir Santiago; após apelação, foi absolvido por unanimidade, saindo do julgamento carregado pelos amigos). Era comum vê-lo fazendo discursos em praça pública e em portas de fábrica naquela época. Casou-se com Maria Isa Tavares em 1953, a quem conhecera quatro anos antes.

Nesse período, matriculou-se na escola técnica “Fênix Caixeiral Paraense” e liderou, junto com Cléo Bernardo, a campanha “Marcha da Fome”, lançada por seu partido e reprimida duramente pelas autoridades policiais. Por causa disso, foi preso e processado pelo DOPS.

Em 1955 voltou ao Maranhão a trabalho, transferido para uma agência de seu banco na capital, onde assumiu a gerência (uma mudança imposta pelo presidente licenciado do BASA, Gabriel Hermes, como punição, por Jinkings tê-lo denunciado, num artigo de muita repercussão, por crime eleitoral). Como o PSB não estava instalado naquele estado, ingressou no mesmo ano no Partido Comunista do Brasil (PCB). Sua casa seria usada na época como “aparelho” para militantes que realizavam viagens a São Luís por motivos políticos.

O XX Congresso do PCUS, em 1956, certamente não passou despercebido por Raimundo Jinkings, que, mesmo estando ciente das acusações contra o legado de Joseph Stálin e o “culto à personalidade” avaliou que a atitude de Nikita Kruschev teria favorecido o imperialismo em sua tentativa de atacar o Movimento Comunista Internacional. Ele reconhecia todas as conquistas sociais soviéticas e achava que elas, certamente, poderiam ser aperfeiçoadas, mas acreditava que jamais se deveria permitir a destruição da URSS (em 1991, ele ficaria profundamente abalado com a dissolução do país).

Em 1959, retornou a Belém. Aquele ano foi emblemático, já que marcou o triunfo da revolução cubana. Como milhares de jovens latino-americanos, Jinkings também se encantou com a epopeia dos barbudos do Movimento 26 de Julho e admirou dirigentes como Fidel Castro e Che Guevara (ele criaria, posteriormente, o grupo “Amigos de Cuba”, para prestar solidariedade à ilha e também defenderia as lutas de libertação nacional na África e a revolução dos cravos em Portugal). No Brasil, por sua vez, durante o processo eleitoral que culminou com a vitória de Jânio Quadros, apoiou o general Henrique Teixeira Lott para presidente e João Goulart para vice.  Jinkings se tornou presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e secretário sindical do PCB.

Depois do golpe militar em 1964, Raimundo Jinkings (considerado pela ditadura como “o cabeça da subversão no Pará”) foi obrigado a se esconder durante um mês em residências de parentes, até negociar os termos de sua entrega à polícia, sendo imediatamente levado à prisão. Durante os “anos de chumbo” foi encarcerado em diferentes ocasiões, respondeu a diversos Inquéritos Policiais Militares (IPMs) e teve seus direitos políticos cassados (por causa de dificuldades financeiras, ele chegou, inclusive, a trabalhar como feirante na Praça Batista Campos, em Belém).

Dentro do partido, esteve próximo do grupo de dirigentes que contava com nomes como Horácio Macedo, Ivan Pinheiro e Juliano Siqueira. Ainda que admirasse a experiência cubana, posicionava-se contra a luta armada no Brasil (a linha oficial de seu partido), o que não impedia que sentisse profundo respeito pelo futuro fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN) Carlos Marighella e de ser amigo de vários guerrilheiros naquele período (também foi admirador de Francisco Julião e das Ligas Camponesas, demonstrando contínuo apoio à luta pela reforma agrária).

Jinkings destacar-se-ia, ainda, como livreiro. A relação com os livros vinha da infância e adolescência. Aos 14 anos, leu As dores do mundo, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, obra que o marcou profundamente. Ao longo dos anos, passou a apreciar autores brasileiros como Lima Barreto, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, Raquel de Queiróz e Jorge Amado, assim como estrangeiros, como Máximo Górki, León Tolstói, Vladimir Maiakovski, Jean-Paul Sartre, Karl Marx, Friedrich Engels e V. I. Lênin (destes três últimos possuía as obras completas). No final da vida, a biblioteca pessoal de Jinkings contava com aproximadamente 10 mil exemplares.

Sua relação com editoras do Sul do país (como Brasiliense, Fulgor e Civilização Brasileira), assim como sua amizade com homens de letras, militantes e publishers da envergadura de Caio Prado Júnior e seu filho Caio Graco, certamente o impulsionou na nova atividade, fazendo com que inaugurasse em 1965, ao lado de Isa, a icônica Livraria Jinkings, que logo se transformou em um dos mais importantes centros de cultura e debates de Belém, além de possivelmente a principal livraria da região Norte do país. Diversos escritores conhecidos lançaram obras lá, entre os quais, Ziraldo, Milton Hatoum, Lígia Bojunga, Alfredo Oliveira, Rui Barata, Salomão Laredo e Max Martins. Isso não impediu que o local fosse recorrentemente visado pela ditadura e que chegasse a sofrer atentados (a fachada da livraria foi, inclusive, metralhada em certa ocasião). Ela se tornou um ponto de encontro da intelectualidade progressista da região e local onde, mais tarde, se realizariam reuniões da Frente Democrática de Oposição (FDO), fundada por ele em 1982, e da Sociedade Paraense dos Direitos Humanos (SPDH), os principais grupos que articulavam a luta pelas “Diretas já” naquele estado (época em que Jinkings era o editor do jornal Resistência).

Em 1974, a convite do PCC, ele e a esposa foram a Cuba (na década seguinte, Jinkings viajou novamente a Havana, desta vez para participar de uma conferência internacional sobre a dívida externa, um evento no qual teve destaque a presença de Luiz Carlos Prestes); em 1987, Raimundo esteve na União Soviética acompanhado de Isa (onde permaneceram por três semanas), ambos agraciados pelo PCB por terem sido campeões de venda de assinaturas do jornal Voz da Unidade em todo o país; e em 1994, ele recebeu o prêmio “Livreiro do Ano” (outorgado pela Associação Nacional do Livro), como reconhecimento da importância de seu trabalho. Jinkings também criou, com os colegas Carlos Sampaio e Amado Tupiassu, a primeira Editora Boitempo, que lançou livros de dirigentes e intelectuais marxistas como Mao Tsé-tung e Ho Chi Minh. A editora, por diferentes motivos, teria curta duração.

No início dos anos 1990, combateu o grupo “liquidacionista” encabeçado por Roberto Freire, que pretendia dissolver o PCB, apropriar-se de seu símbolo e de sua bandeira, assim como mudar seu nome para Partido Popular Socialista (PPS). Jinkings foi um dos que lutaram para a preservação da sigla e apoiou o início de sua reconstrução.

Raimundo Jinkings faleceu em 1995, aos 68 anos de idade. Ivana Jinkings (a caçula de cinco filhos), naquele mesmo ano, fundaria a nova Boitempo, que se tornaria uma das mais importantes editoras de Ciências Humanas do país.

Cómo citar esta entrada: Pericás, Luiz Bernardo (2021), “Jinkings, Raimundo”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en http://diccionario.cedinci.org

http://diccionario.cedinci.org/jinkings-raimundo/


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