Importante artigo de Fuser, na tentativa de desmistificar a questão da Syria. Muitos progressistas compram as informações deformadas que chegam por meio da mídia. "A isso se soma a postura delirante de certos grupos de ultraesquerda que tomam partido, naquele conflito, exatamente do mesmo lado que os Estados Unidos, a Otan e os terroristas psicopatas do Estado Islâmico".
Sete verdades sobre o conflito na Síria
Por Igor Fuser, no Jornal Brasil de fato
É importante desconstruir a fraude maniqueísta que reduz um conflito complexo entre os “rebeldes” do bem e os carniceiros do mau. |
Com a melhor das intenções e a maior inocência, muitos
brasileiros com posições progressistas têm se deixado levar pelas informações
deformadas sobre a situação na Síria que nos chegam por meio da mídia
pró-imperialista. A isso se soma a postura delirante de certos grupos de
ultraesquerda que tomam partido, naquele conflito, exatamente do mesmo lado que
os Estados Unidos, a Otan e os terroristas psicopatas do Estado Islâmico,
espalhando pelas redes sociais, de forma acrítica, as versões dos
propagandistas do Império. Uma polêmica se instala em setores da esquerda
brasileira a partir de uma falsa questão: apoiar ou não o regime de Bashir
Assad.
Em relação a isso é importante, antes de qualquer coisa,
desconstruir a fraude maniqueísta veiculada pela mídia, que reduz um conflito
extremamente complexo a um jogo de videogame onde se situam, de um lado, os
“rebeldes” do bem, acompanhados dos civis indefesos que os apoiam, e do outro,
os carniceiros do governo sírio, com seus russos desalmados.
Resumidamente, alguns pontos devem ficar claros, para que se
entenda corretamente o que está acontecendo na Síria.
1. Não existe uma “revolução síria”. Se, no início, em 2011,
havia forças políticas sinceramente interessadas em democratizar o país, elas
há muito tempo desapareceram de cena, engolidas pelo que é na realidade uma
rebelião étnico-religiosa, conservadora, de caráter islâmico fundamentalista.
2. Os EUA e seus aliados árabes (principalmente o Catar e a
Arábia Saudita) são os grandes culpados, por terem armado, financiado e
treinado os combatentes fundamentalistas, usados como bucha de canhão no plano
de Washington (formulado alguns anos antes) de se livrar de Assad, último
remanescente da velha onda de governantes árabes nacionalistas, tais como
Kadafi na Líbia e Saddam Hussein no Iraque.
3. O regime de Assad é de fato uma ditadura (numa região
onde é preciso procurar com uma lupa para encontrar, aqui e ali, algum fiapo de
democracia), mas é um regime laico, tolerante em relação à diversidade
étnico-religiosa do país, defensor dos direitos da mulher, e independente do
ponto de vista geopolítico. Sua sobrevivência, no atual contexto, é a única
garantia de manutenção da integridade política e territorial da Síria diante da
estratégia imperialista de implodir e fracionar, sempre que possível, os
Estados nacionais com potencial de se contrapor à hegemonia estadunidense, em
qualquer região do mundo. É o que já fizeram na Iugoslávia, no Iraque, na
Líbia.