Compartilhando textos imperdíveis
1-
SELETIVA
O Supremo e os tribunais superiores são lugares de grandes confortos, para não falar dos luxos. Mas nem as cadeiras especialíssimas que se sucediam foram a capazes de atenuar o intenso senta-levanta do ministro Joaquim Barbosa durante o julgamento do mensalão. Parece que a cadeira de presidente fez algum bem até às suas costas ou ancas, porque deixou de ser preciso trocá-la a cada vez que o ministro, a intervalos bem maiores, ficou de pé.
Mas a administração do STF deveria estudar outras cadeiras. Longe do tribunal, não o vemos pela TV, mas podemos saber que o ministro pode ficar nas cadeiras de cinema e outras sem precisar levantar-se.
2-
A ROUPA NOVA DO REI BRASIL – UMA FÁBULA PARA TODAS AS ÉPOCAS
Publicado em 01/02/2013
Quando postei, na noite de quarta-feira, no meu ímpeto de pessoa impulsiva, que por vezes age mais como as vísceras do que com o bom senso, a minha fala pronunciada no debate no
auditório da ABI, no Rio de Janeiro, em que foi levantada a bandeira pelo cancelamento do julgamento do dito Mensalão (que eu chamo de
Mentirão), logo em seguida pensei: “Estou frita!”.
Afinal, neste espaço falo amenidades, belezas, coisas aprazíveis, delícias, não é para estar aqui guerrilhando ideias, disseminando propostas que 99,99% do meu leitorado não abraça e, até mesmo, ferozmente repudia.
Mas Alea Jacta Est (a sorte está lançada). Durante toda a minha vida procurei respeitar as pessoas como elas são. E elas sempre me respeitaram e demonstraram gostar de mim com meu jeito e minha bagagem. E minhas opiniões. Mesmo que delas discordem. E vice-versa. Isso se chama civilidade democrática. Bacana.
Era madrugada. Fui dormir pensando: “Pronto, não vou ter mais acessos no meu blog”. E o que aconteceu? Ontem, meus acessos dobraram! E foram milhares os que curtiram o post controverso, em que proponho um pensamento contraditório a tudo que até agora foi publicado na grande mídia sobre o dito Mensalão (que eu chamo de
Mentirão). Sem esquecer as centenas de comentários no meu Blog e nos sites e blogs de outros jornalistas que o reproduziram, entre eles, o
Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim,
Blog do Miro,
Viomundo,
Correio do Brasil,
Blog do Zé,
Brasil 247,
#Dilmanarede e inúmeros espaços de grande importância e grande acesso na internet.
Dado, sobretudo, o teor dos comentários do post, que se vocês tiverem curiosidade ou tempo recomendo ler, sabem como eu me senti? Como aquele menino da fábula que gritou “o Rei está nu!”, e todos se sentiram liberados para declarar, abertamente, sua opinião contrária à daqueles ao seu redor…
Leiam abaixo.
A ROUPA NOVA DO REI BRASIL – UMA FÁBULA PARA TODAS AS ÉPOCAS
(Livre adaptação minha para a Roupa Nova do Rei, fábula primorosa e épica sobre os costumes humanos, de autoria do dinamarquês Hans Christian Andersen, leitura preferencial de minha infância).
O Rei era muito vaidoso. Um vaidoso de marca maior. E tinha um fraco especial por roupas novas. Com calções e mangas bufantes, mantos arrastando pelo chão. Quanto mais comprido melhor. Sua grande distração e o ponto alto de seu reinado era quando desfilava por seus domínios com suas roupas novas. Os arautos corriam todos os vilarejos avisando a data e a hora, colocavam cartazes, e todos os súditos eram obrigados a estar ali a postos para assistir à passagem da nova roupa real.
O Rei vaidoso, filho de pais excêntricos, que o batizaram com o nome de uma árvore exótica, de um continente remoto, o Pau Brasil, já tinha provado dos talentos dos maiores alfaiates do mundo. Os Saint-Laurents, Givenchys, Dolce&Gabbanas, Armanis, Versaces da época, todos já tinham estagiado no palácio costurando uma roupa nova para o Rei. Quem seria o próximo?
E foi nesse momento de majestosa indecisão que apareceu lá pelos lados do reino um vigarista de terras distantes, tremendo 171, que, sabedor da fraqueza do soberano, fez-se passar por um alfaiate muito famoso lá de onde vinha e prometeu ao Rei que criaria para ele a mais linda das roupas que jamais ele tivera ou sonhara ter. Um modelito haute couture, refinadérrimo, que sairia muito caro, caríssimo, pois necessitava aviamentos especiais, linhas de ouro e prata, miçangas de diamantes, esmeraldas, safiras, colchetes de platina e por aí foi.
Encantado com tantas extravagâncias, o Rei lhe fez todas as vontades. O pilantra, então, guardou no seu baú todo aquele tesouro, e lá ficou diante do tear tecendo com fios imaginários e bordando com pedras inexistentes dias e dias.
Fazia isso com tal zelo, pompa, arrogância, ares de importância e convicção, que as pessoas, para não se fazerem passar por idiotas, confirmavam que, sim, elas o viram costurando a roupa do Rei!
Até que chegou o dia de “Monsieur” estilista vestir o Rei para a grande parada. O povo lotava as ruas ansioso. As bandeirolas, a expectativa, os cochichos: “Será que a roupa dele vai ser mais bonita do que aquela do Gucci?”, perguntavam-se alguns. Alguns até faziam bolo de apostas: “Joguei todas as minhas economias naquela veste do Calvin Klein, com manto clean. Pra mim vai desbancar a desse Monsieur estrangeiro”.
E estava o povão nesse tit-ti-ti, enquanto o Monsieur costureiro provava, diante do espelho, a roupa no Rei, cercado dos usuais nobres puxa-sacos.
O Rei Brasil, inicialmente inseguro e intrigado diante daquela roupa invisível, que o estilista, afetado, requintado, sofisticado, exibia com tantos salamaleques, misturando o idioma local com várias palavras afrancesadas, porque era très chic, começou a ficar impressionado e, já que nada enxergava, julgando estar sofrendo ou de catarata ou de Alzheimer, pra não dar bandeira, exclamou: “Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!”.
Os aspones em volta fizeram coro, em francês, naturalmente (porque era très chic, repito)…
Primeiro vieram as bajulações em “ique”. “Magnifique”, disse um. Seguido em coro por “Fantastique”, “Féerique”, “Aristocratique”, “Monarchique”, “Mirifique”…
Depois, repetindo o ritual de sempre, nas provas das roupas, vieram os elogios em “ant”: “Éclatant”, “Éblouissant”, “Resplendissant”,”Étincelant”, “Flamboyant”, “Brillant”, “Rutilant”, “Rayonnant”, “Puissant”, “Imposant”, “Important”, “Mirobolant”, “Marquant”, “Étonnant”...
Em seguinda, com terminação em “el”: “Sensationnel”, “Surnaturel”, “Solennel”…
Por fim a apoteose dos “eux”: “Somptueux”,”Merveilleux”, “Radieux”, “Fastueux”, “Lumineux”, “Luxueux”, “Majestueux”, “Glorieux”, “Fameux”, “Prestigieux”, “Miraculeux”, “Prodigieux”,”Fabuleux”, “Courageux”…
Teve um, que não havia decorado o vocabulário francês distribuído pela assessoria real para ser pronunciado pela corte e soltou uns “Jabaculeux”, “Congelê” (provavelmente referindo-se ao frio que o rei desnudo estaria sentindo em pleno inverno), “Vexamê”. Mas, no meio de tantas palavras rococós, ninguém percebeu e também ficaram valendo como elogios.