sexta-feira, 30 de maio de 2008

AULA DE JORNALISMO



Feito pelo documentarista Daniel Florêncio, para a Current TV, o filme já foi exibido nos Estados Unidos e Inglaterra. Norte-americanos e ingleses puderam conhecer um pouco de Aécio Neves, o que não chega até nós pela imprensa mineira.
Do Aécio que tem muita chance de virar presidente da República em 2010 ou 2014.
Assistam, com muita atenção, e ajudem a divulgar. São só 8 minutos e meio, mas um bocado de informação inédita para muitos de nós.
(publicado no http://www.tamoscomraiva.blogger.com.br/)

e ainda no Youtube ou Novae

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A Luta Continua - sobre o 1968 de Zuenir

autor: Mauro Bucci



Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar

Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais

Que aqui sangraram pelos nossos pés

Que aqui sambaram nossos ancestrais"

(Vai Passar, de Francis Hime e Chico Buarque)

O livro “1968- o ano que não terminou” é uma leitura imprescindível para a compreensão daquele ano que marcou para sempre a vida no mundo. Zuenir Ventura relata os acontecimentos no Brasil, fazendo com que o leitor compreenda a conjuntura, naquele momento, na vida dos brasileiros. Diferente de outros relatos, ele não desce à cozinha, preocupa-se com os fatos mais relevantes para a compreensão de quem lê, com isenção e profissionalismo, sem, contudo, colocar-se fora deles.

Nas passagens iniciais, uma festa de reveillon, há imagens hilárias das loucuras daquele tempo de “É Proibido Proibir”, como a impagável cena de um casal que chega à festa e pede – para começar - dois uísques. Recebe, incrédulo, duas garrafas de legítimo scotch. Assim, segue-se o livro todo: introduzindo o leitor no clima de cada momento que relata, fazendo o leitor sentir-se parte daquilo tudo.

O autor passeia pelos acontecimentos que se desenrolam no mundo, as mudanças que vão se alastrando, o desejo de liberdade, o repúdio ao autoritarismo. Com o foco no Brasil, ele segue introduzindo o leitor no clima de descontração das conversas de boteco ou dos encontros de intelectuais e artistas. Descreve os novos costumes introduzidos, da moda ao comportamento sexual.

Aos poucos o clima vai pesando. Começa-se a perceber a perversidade e a irresponsabilidade das mudanças produzidas no Brasil. Aqui, diferente da Europa ou da América do Norte, vivia-se uma ditadura militar. A extrema direita começava a assumir o controle da ditadura, o que se consolida em uma sexta feira 13 do mês de dezembro daquele ano.

O livro pincela a discussão filosófica e política entre os "reformistas" e os "revolucionários". As lideranças do movimento estudantil, sindical e intelectual, alinhavam-se com uma das posições. Liam Marx, Marcuse, Mao, Ho Chi Min, Althusser, Che Guevara, Debray. As diferenças eram percebidas apenas por quem estava alinhado. Para as massas o importante mesmo era estar contra a repressão e a ditadura.

O teatro e a música, que já vinham muito mal vistos pelos militares desde o golpe de 64, sentem o peso da censura e da repressão. A estupidez da “milicada” era, muitas vezes, uma fonte de inspiração para jornalistas, como ilustra o seguinte texto do Correio da Manhã, de Brasília:

Brasília assistiu a um espetáculo estranho. Viaturas do DOPS postaram-se diante de um teatro (...). Todo aquele aparato se voltava contra o elenco de "Um bonde chamado desejo", de Tennessee Williams, ou seja, contra quatro atrizes e três atores. A peça, depois de exibida à exaustão no Rio, São Paulo, Bahia, Belo Horizonte, sem falar no resto do mundo, ofendeu a sensibilidade de um censor, que exigiu o corte das palavras gorila, vaca e galinha. O censor se chama Leão. Talvez se julgue, portanto, o rei dos animais, com direito a vetar o nome de alguns de seus súditos. Em verdade esse Leão sugere outro animal, de orelhas compridas e zurrante.



Continue aqui a leitura

Leila

domingo, 25 de maio de 2008

Exemplo de Coerência e firmeza


Pequeno trecho da entrevista do Ministro Franklin Martins à Edna Cristina de Góis, da Revista do Correio deste Domingo:

"Na entrevista para o novo livro de Zuenir Ventura, o senhor disse que se arrepende da luta armada.

- Não gosto muito desse negócio de identificar erro. Todos nós erramos. O maior erro naquela época era apoiar a ditadura. Eu lutei contra a ditadura, estava do lado certo. Às vezes, o importante não é ganhar. Mas quem não luta renuncia a qualquer dignidade. Eu não renuncio de nenhuma forma. Você acha que a luta armada foi um erro? Acho que naquelas condições a lu­ta armada não ajudou, não fortaleceu a resis­tência ou enfraqueceu. Mas, ao mesmo tempo, deixou plantada a semente onde se cavou um fosso entre à ditadura e a resistência. Se o Brasil hoje é mais democrático, em grande parte é porque teve gente que jogou a vida para ele ser. Muita gente que critica - às vezes são jornais - apoiou a ditadura. Só deixaram de apoiar quando a ditadura começou a patinar. Equí­voco é de quem não lutou contra a ditadura.

A ironia do senador Agripino com a ministra Dilma Roussef causou comoção. Tem como ser tolerante nessa situação?

- Eu posso ser tolerante com o senador Agripino. Acho que a Dilma deve ser tolerante. É difícil quem não se opôs à ditadura, quem não sofreu debaixo dela e, muitas vezes, quem se beneficiou dela entenderem toda a sua exten­são: ditadura, terrorismo do Estado, tortura, assassinatos, seqüestros. Eles não viveram is­so. Estavam do outro lado. Não conseguem entender. Mesmo assim, devemos ser toleran­tes. Todo mundo tem direito de errar e errar muito, mas uma pessoa, que se beneficiou, compactuou, deve ter uma certa humildade e não dar lição de democracia a quem esteve do outro lado arriscando a própria vida. "
Esse nosso ministro é muito bom, mesmo. Valeu, ministro.


Leila

terça-feira, 20 de maio de 2008

Maeve Jinkings é a Prof. Lígia


Transcrevo aqui, do sítio Adoro Cinema Brasileiro.com.br, a resenha de Falsa Loura, de Carlos Reinchenbach, conhecido por mergulhar no universo femenino. O filme conta a história de uma operária que vê suas ilusões sociais caírem por terra. Minha filha Maeve faz sua estréia no cinema como a professora Lígia, amiga da protagonista. Em Brasília, estréia no dia 30/05 e em Belém, vai passar no dia 31 de maio, na Estação das Docas.

Falsa Loura

Silmara, uma operária especializada de exuberante beleza, que sustenta o pai incendiário, se envolve com dois mitos diferentes da música popular e com cada um deles irá experimentar traumáticas lições de vida.
Ficha Técnica
Título Original: Falsa Loura Gênero: Drama
Lançamento (Brasil): 2008
Direção: Carlos Reichenbach
- Apresentado pela primeira vez no Festival de Brasilia, no dia 24 de novembro de 2007. - Originalmente foi um dos quatro roteiros que Carlos Reichenbach escreveu, estimulado pela Bolsa Vitae, que buscavam retratar o seu imaginário a respeito da mulher operária. - Em Falsa Loura, Reichenbach mergulha novamente no universo das mulheres proletárias e classe média brasileiras, no ambiente de trabalho e no tempo livre, tendo a cidade de São Paulo como cenário e personagem. As semelhanças com "Lílian M.", "Amor, Palavra Prostituta", "Anjos do Arrabalde" e "Garotas do ABC" terminam no aspecto social e econômico abordado.
- As filmagens foram encerradas no dia 08 de dezembro de 2006, em uma feira da Vila Maria, SP. - Seleção Fundação Vitae para elaboração de roteiros 1995 - Seleção Oficial Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2007 – Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante -Seleção Oficial Festival Internacional del Nuevo Cine. Latinoamericano de La Habana 2007 - O filme foi escolhido para abrir o Festival Sesc dos Melhores Filmes 2008, e a 11ª Mostra de Cinema de Tiradentes. - Canções - Paulo Ricardo, Alexandre Leão, Isolda & Milton Carlos, Carlos Reichenbach e a TRUPE. -
Sinopse completa
Operária especializada e competente, a bela Silmara (Rosanne Mulholland) sustenta o pai, Antero (João Bourbonnais), um ex-presidiário físicamente deformado pelo fogo e tenta a todo custo reatar relações amigáveis entre o pai e o irmão caçula, o cabelereiro Tê (Léo Áquila). Apesar de atrair e ser atraída pelos homens, Silmara mantém um ambíguo relacionamento com a professora de dança Regina (Luciana Brites). Silmara compensa a deprimente miséria familiar com um comportamento aparentemente agressivo, fútil e despachado. Na fábrica, ela é instada por sua melhor amiga, a também operária Luiza (Vanessa Prieto), a se tornar a "pigmalião" da tímida, desajeitada e solitária Briducha (Djin Sganzerla). Silmara, Briducha e a professora municipal Ligia (Maeve Jinkings), juntam suas economias para assistir o show do grupo "Bruno e seus Andrés", no Clube Alvorada. Ao se envolver emocionalmente com o ídolo Bruno de André (Cauã Reymond), Silmara passa a representar para suas amigas do trabalho a utópica possibilidade de rápida ascensão econômica e social e se torna um mito entre as colegas Milena (Suzana Alves), Valquíria (Priscila Dias), Fátima (Naruna Costa) e Rosecler (Ingrid Silveira). Somente Luiza, sua confidente, fica sabendo que Bruno a tratou como uma réles prostituta. Ao mesmo tempo, ela desconfia que o pai voltou a atividade de incendiário profissional. Apesar da brutal lição de desprezo com o ídolo pop, Silmara irá repetir o mesmo trajeto abissal quando, através da intermediação do poderoso advogado Dr. Vargas (o cineasta e jornalista Bruno de André), é contratada para passar um final de semana como acompanhante do maior cantor da música romântica brasileira, Luís Ronaldo (Maurício Mattar) e de seu filho Leonel (Emanuel Dórea).

Assista cenas do filme aqui:

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Famigerado Comunista


O FAMIGERADO COMUNISTA

Éramos cinco, todos menores de dez anos, em 1964. Na rua onde morávamos, tinha de tudo: comunistas,

fascistas, contrabandistas e sabe-se lá mais o quê. Na esquina, os filhos de um juiz xingavam quando passávamos: “Ei, filhos de comunista!”. A princípio nem sabíamos de que nos xingavam, mas logo fomos a meus pais saber o que era comunista.

Meus pais explicaram, mostraram reportagens com fotografias e entendemos que Comunistas lutavam ao lado do povo, era bom ser comunista. E ficamos muito orgulhosos de sermos filhos de comunista. Papai, sempre brincalhão, sugeriu que poderíamos responder a eles dizendo que eram filhos de fascista.

À tarde saímos para a rua armados, prontos para o embate. Todas as tardes passeávamos de bicicleta ou íamos para a praça, sempre passando pelo território inimigo.

- Ei, filhos de comunista!

- Tu é que és filho de fascista! Filho de fasciiistaaaa!


Veio o golpe militar e papai “viajou”. Nossa rotina não mudou: escola pela manhã, trabalho escolar até 4 da tarde e depois rua e, claro, a guerra com os reacionários (essa palavra também aprendemos com papai e mamãe).

Havia na rua um colega nosso que brincava de bicicleta e “pega ladrão”, cujo pai era reacionário e o tio, um bêbado. Ele, nesse dia, chegou excitado e foi logo se dirigindo a nós. Estávamos os quatro irmãos mais velhos e dois primos de nossa idade - Huáscar e Bolívar. Falou: “O pai de vocês, ó: (fez um quadrado com os dedos da mão, significando xadrez, cadeia) tá preso. Pegaram ele lá no Rio de Janeiro.”

Corremos para casa a perguntar a mamãe se era verdade o que havíamos escutado. Mamãe explicou que não era verdade. Aquilo eram apenas boatos que os milicos inventavam para fazer terrorismo com os familiares dos comunistas.

Mas, no dia seguinte, o mesmo colega, apesar de ter “pegado uma carreira” dos meus primos, veio com nova história: “Olha, o pai de vocês foi assassinado, ele fugiu e levou bala lá na Cinelândia. Tava vestido de estudante.”

Fomos chorando para casa e mamãe tentou nos tranqüilizar. Nas rádios e na televisão, no entanto, os repórteres davam a notícia e alguns se referiam a ele como o “famigerado comunista Raimundo Jinkings”. Ela falou que ia telefonar para meu pai e que ele falaria conosco. Mais tarde ela nos avisou que papai viria nos visitar, mas em segredo, pois os milicos queriam prendê-lo porque lutava para que os pobres tivessem os mesmos direitos que nós.

À noite, mamãe nos chamou para o quarto que ficava nos altos e dava para o quintal. Foi muito emocionante encontrar o papai, que nos aguardava. O quarto estava na penumbra, não se podia acender a luz. Talvez houvesse um abajur ou uma vela, pois podíamos enxergar muito bem o papai. E, mais importante, senti-lo. Ele nos abraçou muito, apresentou o camarada que o acompanhava e falou que estava tudo bem, mas que ele estava escondido para que os milicos não o pegassem, porque ele era amigo do Jango e dos comunistas.

Ele estava vestindo um macacão de operário, tinha os cabelos crescidos e estava barbado. Carinhosamente, nos tirou as dúvidas e fez as recomendações que qualquer pai faz, do tipo “sejam obedientes”, “ajudem sua mãe”, além das que só um pai como ele faria: falou que não precisava explicar nada para ninguém e nem deveríamos contar que ele nos visitara, para que não pressionassem a mamãe. E que o importante era que estaria sempre em contato conosco por meio da mamãe.

Jamais esqueci esse momento. Me senti companheira e amiga do meu pai. Muito orgulhosa dele, da sua coragem e da sua generosidade.

Leila Jinkings

Original no Blog do Raimundo Jinkings


RA 22 - Meu Nome é Esporte

Reportagem da equipe sobre a região Sudoeste/Octogonal

segunda-feira, 12 de maio de 2008

PARA LUGAR NENHUM

O repórter se posiciona em uma esquina de São Paulo. Gravador na mão, espera o sinal fechar para entrevistar os motoristas que param ao sinal fechado, assim como os pedestres que passam pra lá e pra cá.
“Podia ter trazido uma câmera”, pensou. Era incrível ver aquela multidão se empurrando para chegar mais rápido em algum lugar.
Alguns não paravam. Negavam-se a falar com o repórter - “claro que se fosse TV, seria diferente, daria para falar rapidinho às câmeras”. Alguns até xingavam, mal humorados pela abordagem. Mas a maioria parava e o atendia com cordialidade.
- Olá, você poderia me conceder uma brevíssima entrevista? É para uma reportagem do meu jornal. Aonde vai com tanta pressa?
- Eu, com pressa? Não, impressão sua. Estou indo ao shopping comprar um sapato. Hoje é meu dia de rodízio[1] e vim de metrô.
- Mas, observei que você está quase correndo. Tem outro compromisso?
- Não, não, apenas não quero perder tempo. Depois vou dar uma olhada por aí. Só vou ao trabalho à tarde. Trabalho aqui perto.
Quase foi atropelado por uma motocicleta que tentava ultrapassar pelo espaço entre o meio fio e o carro da esquerda. A moto freou bruscamente no sinal fechado. Rapidamente ele se recuperou do susto e correu a alcançar o dito motoqueiro.
- Ei, amigo, estou fazendo uma reportagem pro meu jornal. Me responde uma perguntinha?
- Fala aí. Rápido, ‘mêo’. Que tô com muita pressa.
- É, eu percebi. Você quase me atropelou.
- Qual é, ‘mêo’?
- Tá, desculpe, eu só queria saber por que tanta pressa?
- ‘Mêo’, tu não sabe que as moto ganha por entrega? O patrão quer pro-du-ti-vi-da-de, tá ligado? Se a gente vacila, nêgo chama outro, cara.
- Mas não é perigoso? Você pode atropelar alguém... ou um carro bater em você...
- Faz parte, cara. De vez em quando morre um colega. Foda!
- Tá, brigadão! Boa sorte.
“É. Não é fácil, não. O cara tem que disputar o mercado. O patrão não quer nem saber. Quer é tantas entregas por hora e que chegue tudo na maior pontualidade. Os entregadores que se virem. Se vacilar, eles mandam embora. Ainda mais que, hoje em dia, eles dão sempre um jeito de burlar a legislação trabalhista. Fazem contrato por serviço dos caras, sem nenhum direito e ainda exigem que o cara entre com a ferramenta de trabalho, a moto. Nesse caso dá pra entender a pressa.”
Ao lado, um carro buzinava com irritação. Há meio segundo o sinal abrira e o carro da frente ainda estava no mesmo lugar. O jornalista lembrou sorrindo do genial Barão de Itararé - ou será do Millor? - e a sua definição de fração de segundo: é o tempo no qual o sinal abre e o motorista atrás buzina.
No próximo sinal vermelho abordou uma motorista. Era uma mulher jovem, que vinha se maquiando. A bolsa aberta no banco do passageiro mostrava o estojo com batom, pó, lápis e outros apetrechos. Ela ia para o trabalho. Era publicitária. Não tinha conseguido se maquiar antes de sair de casa. Na verdade, confessou, nunca conseguia. Dormia tarde, levava o notebook da empresa para casa quando tinha que entregar um trabalho no dia seguinte. O patrão era implacável, explicou ela. O prazo era sempre ditado por ele e não havia argumento que o fizesse estender ‘o dead line’ (povinho pra gostar de falar estrangeirismo, os publicitários).
Depois de cerca de quinze entrevistas, o profissional foi para casa. Ele escrevia as matérias diárias de casa. Escrevia ainda uma coluna semanal. Tomou uma ducha, vestiu a bermuda, ligou o computador. A reportagem mexeu um pouco com ele. Nunca havia refletido sobre essa pressa, essa correria em que vivemos atualmente.
Levantou-se da mesa de trabalho, ligou o gravador e se pôs a ouvir as entrevistas. Depois acendeu um baseado e foi buscar nos vinis[2] um disco do Sidney Miller. Lembrara especialmente da música “Pois é, pra quê?” desse compositor. (A vida passa no meu cigarro / Quem tem mais pressa que arranje um carro / Prá andar ligeiro, sem ter porqu / Sem ter prá onde, pois é, prá quê?).
Decidiu que usaria a música para ilustrar a sua coluna de Domingo próximo. Escreveria sobre essa pressa de chegar a lugar nenhum do mundo de hoje e compararia com a vida dos nossos pais.


[1] Em São Paulo há rodízio dos carros, para tentar diminuir o engarrafamento no trânsito.
[2] Disco em vinil, também conhecidos como bolachões ou elepês.

Os Fantasmas de Glass

A mídia vem há décadas inspirando a literatura, o teatro e o cinema. A lista de filmes remonta o cinema mudo: o filme de Frank Capra, O Poder da Imprensa, de 1928. O Preço de Uma Verdade, no entanto, está longe de retratar o repórter romântico do filme de Capra. Está mais próximo de Cidadão Kane, de Orson Welles, que trata de um jornalista que construiu um grande império de comunicação e foi o primeiro filme sobre imprensa a conquistar espaço na crítica.
O Preço de Uma Verdade (Shattered Glass, 2003), roteiro e direção do estreante Billy Ray, é a história real de um jovem e promissor jornalista dos anos 90 que teve sua carreira encerrada depois de ser desmascarado como um ‘repórter ficcionista’, cujos artigos eram fantasiados e alguns integralmente criados. Stephen Glass, no filme Hayden Christensen (Star Wars: A Ameaça Fantasma e Life as a House), com 25 anos, era o mais jovem editor-associado da tradicional revista de Washington The New Republic e freelance de importantes publicações como Rolling Stones, Hapers e George. A graciosidade de seus textos, assim como a originalidade de suas pautas e das declarações de seus entrevistados encantava os leitores e impressionava os colegas. No entanto ele abusava das fontes ‘off’ - artifício muito usado por alguns veículos de comunicação, mas condenada por outros mais rigorosos – para poder criar ou enfeitar seus artigos.
Em 95 minutos de suspense Billy Ray põe na tela a trajetória relâmpago de Glass, baseando-se no artigo Shattered Glass, de Buzz Bissinger, publicado em outubro de 1998 na Vanity Fair. O artigo, em forma de novela, relata passo a passo a trajetória relâmpago (1995-1998) do menino de ouro da The New Republic. De forma dinâmica e envolvente, Billy prende a atenção do espectador com flashback e fantasias desde a primeira cena. O início é pura imaginação, de um dos artigos inventados, mas com ‘off’ significativo em que Glass já expõe sua essência vaidosa e artificial.
A atuação de Hayden Christensen (Stephen Glass) é brilhante, assim como a de Peter Sarsgaard como Chuck Lane (o editor), que lhe rendeu o Globo de Ouro de ator coadjuvante. Peter Sarsgaard (Meninos Não Choram; Hora de Voltar) está também em cartaz no ótimo O Suspeito, onde confirma seu irrepreensível talento. No elenco ainda se destaca Chloë Sevigne (Dogville) muito convincente como Catilin Avey, amiga e confidente de Glass.
O filme é muito bom, vale a pena ver. Porém com olhos abertos para o nacionalismo estadunidense visível em alguns momentos, que tenta passar a imprensa norte-americana com uma credibilidade muito duvidosa.

INDIVIDUALISMO ESTADUNIDENSE TRIUNFOU

“1968 acabou. O individualismo da sociedade estadunidense triunfou.” As afirmações de Todd Glitlin, autor de “Os Anos 60 – Anos de Esperança, Dias de Ira”, foram dadas em entrevista a Lucas Mendes, em 2008, para a Rede Globo de Televisão. Gitin foi presidente da maior e mais importante organização estudantil dos EEUU, a SDS. Ele protagonizou os acontecimentos de 1968 e faz agora uma análise do movimento de ontem e de hoje.
“Não foi um conflito de gerações, isto é simplificação da mídia”, diz ele. Segundo Glitlin, o movimento foi o choque entre a esquerda e a direita, entre os desejosos de mudança e os conservadores, com componentes de um choque de geração.
Foi um ano tumultuado de confrontos e assassinatos. Martin Luther King foi assassinado, o que acirrou a luta por integração racial. O movimento negro estadunidense havia pouco mais de dois anos perdera Malcolm X. O assassinato de Bob Kennedy e enfrentamentos urbanos somam ainda na lista de fatos que contribuíram para o movimento pelos direitos civil e que foram agravados pela invasão do país ao Vietnam, que já dividia a própria elite política. Explica que o Partido Democrata obtivera um pequeno crescimento e as opiniões mais e menos conservadoras passaram a entrar em conflito, na questão imperialista, política, econômica e cultural.
Talvez se deva a esses acontecimentos difusos a tendência que há nos EEUU em não considerar 1968 com a mesma importância que têm mundialmente.
Para Todd, o movimento estudantil no EEUU cometeu muitos erros: queria fazer tudo sozinho, não elaborou uma análise de conjuntura relevante e era muito, muito arrogante. Parecia haver uma conexão mundial, inexplicável, com muito mais diferenças que semelhanças. “Talvez fosse a revolta mundial contra o imperialismo, talvez fosse a chegada da Era Aquarius, conforme a versão do movimento hippie”, afirma Todd crê que a vitória política foi dos conservadores. Houve, no entanto, muitas mudanças, muitos avanços, na questão racial, da mulher, do homossexualismo, de costumes e, principalmente, na atitude antiautoritarismo.
Para o presente, Todd vê tempos árduos. Os EEUU não retomarão o papel hegemônico econômica e politicamente que tinham antes. “Apesar de ser a política militar dominante, eles não têm o poder moral.” O governo Bush que, segundo ele, é herdeiro de Reagan, está arruinando o país e as forças econômicas são desestabilizadoras. Considera, ainda, seríssima a abordagem militar desencadeada pelo país no mundo e vê sinais de alguma mudança na eleição de Obama.
“Do que aprendemos com todo esse desastre, veremos” diz, referindo-se aos 28 anos de governos pautados pela direita.
É. Veremos.

BRASIL NUNCA MAIS

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